Segundo um estudo de mercado divulgado no Público,
as famílias portuguesas, em termos de consumo, entraram em "modo de
sobrevivência". Quer isto dizer que depois de uma fase em que as famílias
começaram por optar por produtos mais baratos, entraram já na fase de comprar
menos, mesmo dos que são produtos essenciais. Nada de surpreendente, estas
dados vão no mesmo sentido dos divulgados
pelo INE evidenciando o aumento do risco de pobreza e exclusão e das
assimetrias nos rendimentos familiares, Os dados divulgados hoje são da mesma
natureza dos verificados na Grécia na sua fase mais complicada.
A adaptação e contenção dos consumos familiares
são, de uma forma geral, acomodadas pelas famílias desde que sintam a
capacidade de ver supridas as suas necessidades fundamentais. A questão mais
grave coloca-se quando as famílias, muitas famílias, já não conseguem aceder ao
consumo dos bens básicos como os indicadores divulgados vão mostrando.
Nessa fase, para além da importante questão da
sobrevivência instala-se algo que me parece mais grave e que muitas vezes aqui
tenho referido, a dignidade ameaçada.
Na verdade a mais ameaçadora das consequências
das dificuldades é o roubo da dignidade às pessoas atropeladas por problemas
maiores que a sua capacidade para lhes responder. Trata-se da linha que não
pode ser ultrapassada, quando a sobrevivência fica ameaçada e só se torna
acessível pela “mão estendida” que
envergonha, exactamente por uma questão de dignidade roubada.
Como sabemos, a questão da pobreza é um terreno
que se presta a discursos fáceis de natureza populista e ou demagógica, sem
dúvida. Mas também não tenho dúvidas de que os problemas gravíssimos de pobreza
que perto de três milhões de portugueses conhecem, de acordo com a Cáritas,
exigem uma recentração de prioridades e políticas que tarda. Na verdade, apesar
da retórica oficial, as políticas assumidas, por escolha de quem decide, estão
a aumentar as assimetrias sociais, a produzir mais exclusão e pobreza. Mais
preocupante é a insensibilidade da persistência neste caminho que um "compromisso
de salvação nacional" em negociação por quem nos governa e quer governar,
que aliás parece impossível de atingir, provavelmente não alterará de forma
substantiva.
Como sempre afirmo, a pobreza e a exclusão
deveriam envergonhar-nos a todos, a começar por quem lidera, representam o
maior falhanço das sociedades actuais.
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