Segundo a Ordem dos Psicólogos seriam necessários
mais 750 profissionais para, em conjunto com os já existentes, suprirem as
carências do sistema educativo no que respeita à intervenção destes
profissionais.
Desde 1999 que não contratados psicólogos em
regime permanente para as escolas portuguesas. Existe um número, perto de 200,
que são anualmente contratados, muitas vezes com atrasos, o que implica óbvias
consequências em termos de instabilidade, suficiência e qualidade.
O número avançado pela Ordem radica na utilização
de um rácio, um profissional por cada mil alunos, que está ainda acima do
cenário existente em muitos países que usam rácios mais baixos. Conheço muitas
situações em que existe, quando existe, um psicólogo para um agrupamento com
várias escolas e que envolve um universo de 3000 alunos ou mais. Como em vários
outros campos, é um fingimento de resposta.
Nos últimos tempos e nesta matéria tem-se
verificado que o MEC tem permitido que as escolas contratem a prestação de
serviços educativos a realizar aos seus alunos, a empresas, naturalmente,
exteriores à escola que, aliás, têm florescido. Estes serviços envolvem
trabalho de psicólogos bem como de outros técnicos, por exemplo terapeutas, e
desempenham funções em diferentes áreas de trabalho da escola.
Esta contratação de serviços de psicologia, ao
abrigo de Programas Operacionais visa cito exemplos, “mudanças comportamentais
dos alunos”, “melhoria de atitudes face às tarefas escolares”, pretendendo-se o
“sucesso educativo”. É delirante.
Não quero, nem devo, discutir aqui a natureza
específica, quer em termos de adequação, quer de qualidade da intervenção dos
técnicos, designadamente na área da psicologia. A minha questão é o modelo que
a suporta e os recursos necessários. A situação existente assume um modelo
errado, ineficaz, independentemente do esforço e competência dos profissionais
envolvidos. Trata-se, também aqui, de mais uma entrega de serviço público aos
mercados.
Como é que se pode esperar que alguém de fora da
escola, fora da equipa, técnica e docente, fora dos circuitos e processos de
envolvimento, planeamento e intervenção desenvolva um trabalho consistente,
integrado e bem sucedido com os alunos e demais elementos da escola?
Das duas uma, ou se entende que os psicólogos
sobretudo, mas não só, os que possuem formação na área da psicologia da
educação podem ser úteis nas escolas como suporte a dificuldades de alunos,
professores e pais, em diversos áreas, não substituindo ninguém, mas
providenciando contributos específicos para os processos educativos e,
portanto, devem fazer parte das equipas das escolas, base evidentemente necessária
ao sucesso da sua intervenção, ou então, existirá quem assim pense no próprio
MEC (veja-se o atraso na colocação dos poucos que o sistema tem), os psicólogos
não servem para coisa nenhuma, só atrapalham e, portanto, não são necessários.
Este entendimento contraria o que a experiência e o conhecimento da realidade
de outros países aconselha.
A situação aceite e promovida pelo MEC parece-me,
no mínimo, um enorme equívoco, que, além de correr sérios riscos de eficácia e
ser um, mais um, desperdício (apesar do empenho e competência que os técnicos
possam emprestar à sua intervenção), tem ainda o efeito colateral de alimentar
uma percepção errada do trabalho dos psicólogos nas escolas.
No entanto, a reflexão sobre este trabalho
merecia um outro espaço e oportunidade.
Apenas a nota final de que psicologia da
educação com qualidade e utilidade e “outsourcing” não me parecem ideias compatíveis. No entanto,
nos tempos que correm, a retórica centra-se na qualidade, no rigor e na
excelência, enquanto a prática é dirigida para o corte de recursos e meios e a
normalização de processos em que apenas sobrevivem os mais aptos.
2 comentários:
Infelizmente, os poucos psicólogos que encontramos nas escolas têm uma área de intervenção muito limitada, encontram-se demasiado afastados dos alunos, pois são vistos apenas como um acessório. Como faz notar, falta o trabalho em equipa, dentro da própria escola, e uma visão de que psicologia, mais do que "corrigir comportamentos", pode contribuir para uma escola e uma pedagogia mais saudáveis.
De acordo
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