quinta-feira, 11 de julho de 2013

COM AMIGOS ASSIM ... QUEM PRECISA DE INIMIGOS

No meio do nevoeiro no qual se esconde a "personalidade de reconhecido prestígio" que virá mediar o impossível "compromisso de salvação nacional", solicitado por uma não decisão de Cavaco Silva, passarão certamente despercebidas duas referências que julgo importantes. A primeira é a aprovação na AR da legislação de suporte ao aumento da carga horária e do "sistema de requalificação", um eufemismo para o plano de despedimentos na administração, duas medidas que contribuem significativamente para o empobrecimento e desemprego.
A outra nota é anda mais relevante e refere-se aos deuses mercados.
Conforme se pode ler no I, os grupos empresariais franceses e alemães são os que mais beneficiam das políticas de ajuda do BCE sendo prejudicadas as empresas espanholas e portuguesas. As taxas de juro do BCE agora decididas como medidas de apoio à economia e a forma como os bancos gerem as taxas de juro nos empréstimos às empresas, leva a que, de acordo com a Comissão Europeia as pequenas e médias empresas portuguesas, gregas, espanholas e cipriotas as que mais são penalizadas pagando taxas de juro por empréstimos bancários entre os 6% e os 7% sendo que as alemãs e as francesas beneficiam de uns mais simpáticos 2% a 3%. Muito interessante e elucidativo.
Aliás, segundo o "Financial Times", com base em dados do Banco Central Europeu estima-se uma diminuição de cerca de 42 mil milhões de euros em pagamentos de dívida pelas empresas europeias nos próximos cinco anos. Acontece que esta diminuição envolve sobretudo os grandes grupos empresariais alemães e franceses admitindo-se uma poupança de 14 e 9 mil milhões de euros, respectivamente e a Itália, com uma diminuição de 2,3 mil milhões. No entanto e curiosamente, Portugal e Espanha verão as suas empresas ainda mais penalizadas do que já estão com o aumento do pagamento.
Nada de novo, dados de Junho do Eurostat mostravam como de 2009 para 2012 os países do Centro e Norte da Europa ficaram mais ricos e os do Sul mais pobres, ou seja e como sempre, a crise tornou os ricos mais ricos e os pobres mais pobres. Para exemplificar, Portugal em 2009 tinha Portugal um PIB per capita 80% da média da EU27 para em 2012 passar para 75% sendo agora um dos quatro países com menor poder de compra.
A análise dos dados mostra como os países envolvidos em programas de austeridade impostos pela "ajuda" estão a afundar-se em dificuldades e os países que generosamente "ajudam" vão enriquecendo.  Deve ser a isto que chama solidariedade e coesão europeias.
Parece claro que para além das enormes responsabilidades políticas internas, importa considerar como, sem surpresa face a muitos dados já conhecidos, que os países mais ricos têm beneficiado fortemente com os pacotes de "ajuda solidária" dirigidos, impostos, aos países mais pobres com os resultados conhecidos. Esta desinteressada ajuda acontece mediante a cobrança de juros altíssimos. Mais um exemplo, Portugal paga por ano 4,4% do seu PIB em juros, 7,2 mil milhões de euros, valor que voa dos nossos bolsos para "dezenas de cofres de Estados e bancos europeus".
Por outro lado e como também se sabe,  as economias fortes do norte da Europa financiam-se a taxa zero ou mesmo, estranhamente a taxas negativas, enquanto nós, as economias do sul e a Irlanda pagamos juros altos cujo montante seria um excelente contributo para a redução dos nossos problemas de equilíbrio. Está certo, somos pobres, temos o dinheiro mais caro, os mais ricos têm o dinheiro mais barato. Deve ser isto a que chamam os mercados a funcionar.
Eu sei que sou estúpido, a economia e finanças constituem uma matéria inacessível ao cidadão comum, mas parece-me, certamente de forma errada, que assim se torna mais difícil que os países em dificuldades deixem de ser pobres e que haja maior equidade e coesão económica e política na União Europeia.
Que não me levem a mal os nossos generosos amigos, mas às vezes até penso que é justamente isso que pretendem com a ajuda desinteressada que nos dão, que, naturalmente, temos de pagar mas que nos vai deixando pobres.
Tenho até medo de estar a ser injusto para com os nossos generosos amigos e para com os feitores que em seu nome nos administram e estão de forma tão empenhada e eficaz a promover o nosso empobrecimento.

1 comentário:

não sei quem sou... disse...

O poeta Ovídio lamentou-se da seguinte forma quando caiu em desgraça. O lamento também serve para nós.

"DONEC ERIS FELIX, MULTOS NUMERABIS AMICOS"


VIVA!