domingo, 21 de julho de 2013

A AGITAÇÃO IMPRODUTIVA

Todos nós conhecemos pessoas e instituições que têm um estilo de funcionamento tão curioso quanto evidente, ostensivo. Mostram um comportamento altamente dinâmico, parecem sempre em movimento, sempre focadas em algo de super-importante, sempre envolvidas em complexos processos de decisão, sempre a congeminar projectos fundamentais. Quando procuramos perceber o resultado desta hiper-actividade, chegamos com alguma perplexidade à conclusão de que é pouco mais que zero.
Todo o movimento e dinâmica que observamos não produz resultados, é ineficaz embora mascarada com um enorme volume de trabalho, preocupações, discursos, etc.
Costumo descrever este cenário como uma "agitação improdutiva", ou seja, vemos pessoas permanentemente a agitarem-se de um lado para o outro, em discursos e reuniões contínuas, com imensos dossiers de baixo do braço, mas nada de produtividade.
Serve esta introdução para me referir ao que tem sido os últimos dias da cena política portuguesa, um cenário claro de agitação improdutiva. Aliás, como também já disse, dada a cultura e praxis existente dificilmente poderia ser de outra forma.
Em Portugal é habitual que a actuação dos partidos se organize mais em função dos seus interesses e de interesses corporativos do que a pensar no bem comum. A partidocracia é dona, ou quer ser dona, da vida cívica, económica, social e cultural do país. A decisão do Presidente da República estava, pois, condenada ao fracasso.
Assim sendo, após este período de intensa agitação, é previsível que o Presidente da República venha a comunicar o óbvio, vamos ter mais do mesmo.
Provavelmente, poderemos assistir a uma remodelação do Governo se Cavaco Silva se dispuser a engolir um sapo, a subida de Paulo Portas a Vice-Primeiro-ministro, e lá virá a retórica da estabilidade, da cautela com o nervosismo dos mercados, da proclamada coesão da coligação (até ao próximo sobressalto). A agitação destes dias foi rigorosamente inconsequente, improdutiva. Como já disse, paradoxalmente, em nome da estabilidade prolonga-se a instabilidade.
Entretanto, no chamado mundo real, as pessoas assistem sem surpresa a estes jogos agitados e continuam a luta diária pela sobrevivência envolvidos na desesperança.
No entanto, mantendo algum optimismo, quero que acreditar que por uma vez a agitação seja produtiva. Depende  de quem se agite e da forma como se agite.

PS - O PS apresentou à Procuradoria-geral da República um pedido de investigação pois tem "dúvidas fundadas" de que estará a ser alvo de escutas. Acho estranho, pois creio que, como escrevi acima, nos últimos tempos todos os partidos têm estado sob escuta, embora sem "fundadas esperanças" de que tivessem algo de substantivo para dizer. Como se verificou, as nossas "fundadas dúvidas" confirmaram-se.

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