sábado, 20 de abril de 2013

MENINAS PARA UM LADO, MENINOS PARA O OUTRO

Com alguma regularidade o Público trata uma matéria, o ensino discriminado, a que, do meu ponto de vista, num enorme equívoco se chama ensino diferenciado, ou seja e no caso, escolas para rapazes e escolas para raparigas.
Desta vez insere uma entrevista com Abigail Norflet James, uma especialista em ensino discriminado. Durante a entrevista, James procura enunciar um conjunto de argumentos “científicos” que, no seu entendimento, sustentam a bondade de separar os meninos das meninas.
Como é evidente e reconhecido pela comunidade científica, existem diferenças de género. A questão não é essa. A questão central é se as diferenças entre as pessoas devem, ou não, levar a que sejam arrumadas pela sua diferença e que daí advenham vantagens para todos, sublinho, para todos, e da discussão de quais os limites a esta separação. E aqui, de uma forma geral, a ciência não sustenta a opção, apenas os valores e as convicções o fazem.
Em 2011 esteve em Portugal David Chadwell também apresentado como especialista em ensino diferenciado, em formação para o corpo docente do Colégio Planalto e numa conferência na U. Católica, para explicar como se devem ensinar os rapazes que, por serem rapazes, devem frequentar escolas, claro, só para rapazes. Uma nota breve sobre a designação, o equívoco a que me referi. Ensino diferenciado significa a mobilização de metodologias de trabalho educativo que procurem responder à diversidade dos alunos na sala de aula, ou seja, sendo as salas de aula constituídas por grupos heterogéneos em diferentes critérios, torna-se necessário encontrar respostas diferenciadas para as diferentes características mantendo as crianças juntas. Não existem grupos homogéneos, nem constituídos por gémeos. David Chadwell será especialista em ensino discriminado, o que representa exactamente o contrário de diferenciação educativa.
Em 2007 o especialista convidado foi o Professor Cornelius Riordan, sociólogo, que proferiu também uma conferência sobre as vantagens das escolas só para rapazes ou só para raparigas.
Não discuto, uma questão colocada por Abigail Jones, a escolha dos pais e encarregados de educação da escola que desejam para os seus filhos. Ainda assim importa considerar que a liberdade de escolha é condicionada por múltiplos factores e pode assentar em critérios como público ou privado, dimensão, estatuto social predominante, laica ou religiosa, com farda obrigatória ou não, com formação de natureza militar ou não, com co-educação ou com separação de géneros, estabelecimentos em moda, etc. Num esforço de alargamento de opções poderá colocar-se até a possibilidade de se desejarem escolas para alunos com excesso de peso que terão, naturalmente, um plano curricular reforçado no âmbito da actividade física e cuidados redobrados na alimentação ou escolas para qualquer forma de minoria para que, ideia peregrina, fiquem mais protegidas dos excessos das maiorias, etc. basta escolher os critérios e enumerar as “vantagens”. Estas escolhas assentarão, necessariamente, no conjunto de valores, cultura, representações, expectativas, etc. dos pais. Trata-se de uma opção que lhes assiste.
A questão mais substantiva e que justifica o meu comentário é a afirmação de que escolas separadas por género são melhores e alguma da sustentação aduzida. Nem James, Riordan ou Chadwel apresentam evidência consistente sobre a superioridade do ensino discriminado assente nas diferenças entre rapazes e raparigas. A defesa do modelo é um enunciado de convicções e de referências pedagógicas sem qualquer solidez no que respeita ao que entendem ser as necessidades escolares diferentes dos rapazes e das raparigas, algumas de uma ingenuidade bonita, os rapazes acham que se distraem menos por não ter raparigas na sala. É pouco, muito pouco. Recordo que Riordan afirmou na altura que mais de metade dos estudos não é conclusiva sobre os efeitos positivos, mas crê nas vantagens das escolas separadas. Porque sim.
De uma forma extraordinária, justificou, por exemplo, que a questão do assédio sexual que, segundo ele, terá estado na base da tragédia na Universidade Virgínia Tech !!! Para demagogia não está mal. Defendeu também que as políticas educativas promotoras da equidade nos géneros faliram porque, afirmou Riordan, o facto de as raparigas terem actualmente um maior acesso por exemplo ao ensino superior e, frequentemente, melhor rendimento académico, implicou a transformação dos rapazes “num grupo claramente em desvantagem” o que só se resolve se forem para escolas separadas. Não lhe ocorre um momento pensar na organização, qualidade e modelos dos processos educativos, certamente um pormenor.
Uma outra questão interessante e não habitualmente abordada, remete para os limites da educação separada. Será desejável até ao fim do secundário ou será melhor prolongar também durante o ensino superior e, entretanto, começar o processo de separação do mercado de trabalho também por géneros, uma vez que em adultos também homens e mulheres têm características diferentes?
Termino como comecei, entendo como totalmente legítima a existência de valores e convicções que sustentem a opção pela educação separada mas, por uma questão de honestidade intelectual, não os mascarem de ciência.

2 comentários:

Anónimo disse...

Em Portugal a relação entre o ensino diferenciado e a Opus Dei é pura coincidência. Aliás a Margarida Rebelo Pinto escreveu sobre isso.

Abraço
António Caroço

Tucano Da Messina disse...

Parece-me que a escola deve ser integrista dos 2 géneros, as aulas com uma simetria aproximada ( quase igual qto ao número de alunos de ambos os sexos)e o mesmo qto aos professores...eu andei numa escola diferenciada, porque eram assim as escolas privadas nos anos setenta...o mesmo para os alunos estrangeiros em vista à partilha da riqueza cultural que constitui esta inclusão..