terça-feira, 14 de agosto de 2012

TALVEZ A NOTÍCIA DA MORTE DA RECESSÃO SEJA UM POUCO EXAGERADA

Passos Coelho afirmou há pouco na resguardada festa do Pontal, a rentrée, como lhe chamam, seja lá isso o que for, que 2013 será o ano da "inversão da actividade económica” e da “recuperação” e que “o próximo ano não vai ser um ano de recessão”.
Por coincidência, soubemos hoje que o desemprego atingiu uns insuportáveis 15 % e que o PIB teve uma queda fortíssima de 3.3%.
Esta afirmação do Primeiro-ministro recorda-me Setembro de 2011 quando Passos Coelho afirmou, cito, "2012 será o princípio do fim da emergência nacional" o que, aliás, o ano tem vindo a confirmar com clareza.
Recuando um pouco mais, também me lembro do mítico dia 10 de Outubro de 2006 em que o não menos mítico Manuel Pinho, então ministro da economia, decretou, "a crise acabou", a grande questão passa a ser, disse, "quanto é que a economia vai crescer".
O fim da crise e o crescimento da economia deu no que conhecemos e sofremos.
Eu sei que a liturgia partidária obriga a umas concessões ou tentações nos discursos pelo que não me parece nada estranho o discurso de Passo Coelho, apenas me surpreende um pouco  a referência no Público ao facto, diz-se, de que o discurso não mereceu grande adesão dos assistentes. É pena porque a intenção é bonita e o optimismo é uma virtude.
No entanto e na verdade, segundo o que regularmente lemos e ouvimos, existem riscos elevados de recessão que pairam sobre a Europa, assiste-se ao desentendimento da União Europeia sobre um projecto político comum e solidário de tal forma que ciclicamente se fala do risco de implosão da UE, sabemos da situação de quase ruptura que Grécia, Itália e Espanha atravessam, etc., tudo compondo um cenário francamente animador.
Provavelmente, estas minudências, por assim dizer, não nos afectarão e anunciam-se alguns amanhãs já que talvez ainda não cantem mas já encantam.
É muito interessante como, nas mais das vezes, a realidade no discursos dos políticos, é sempre a projecção dos seus desejos.
E também gostava de acreditar mas lembro-me ainda de Mark Twain, talvez a notícia da morte da recessão seja um pouco exagerada.

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