Passos Coelho afirmou há pouco na resguardada
festa do Pontal, a rentrée, como lhe chamam, seja lá isso o que for, que 2013 será
o ano da "inversão da actividade económica” e da “recuperação” e que “o
próximo ano não vai ser um ano de recessão”.
Por coincidência, soubemos hoje que o
desemprego atingiu uns insuportáveis 15 % e que o PIB teve uma queda fortíssima
de 3.3%.
Esta afirmação do Primeiro-ministro recorda-me
Setembro de 2011 quando Passos Coelho afirmou, cito, "2012 será o
princípio do fim da emergência nacional" o que, aliás, o ano tem vindo a
confirmar com clareza.
Recuando um pouco mais, também me lembro do mítico
dia 10 de Outubro de 2006 em que o não
menos mítico Manuel Pinho, então ministro da economia, decretou, "a crise
acabou", a grande questão passa a ser, disse, "quanto é que a economia vai
crescer".
O fim da crise e o crescimento da economia deu no
que conhecemos e sofremos.
Eu sei que a liturgia partidária obriga a umas
concessões ou tentações nos discursos pelo que não me parece nada estranho o
discurso de Passo Coelho, apenas me surpreende um pouco a referência no Público ao facto, diz-se, de
que o discurso não mereceu grande adesão dos assistentes. É pena porque a
intenção é bonita e o optimismo é uma virtude.
No entanto e na verdade, segundo o que regularmente
lemos e ouvimos, existem riscos elevados de recessão que pairam sobre a Europa,
assiste-se ao desentendimento da União Europeia sobre um projecto político
comum e solidário de tal forma que ciclicamente se fala do risco de implosão da
UE, sabemos da situação de quase ruptura que Grécia, Itália e Espanha atravessam,
etc., tudo compondo um cenário francamente animador.
Provavelmente, estas minudências, por assim
dizer, não nos afectarão e anunciam-se alguns amanhãs já que talvez ainda não
cantem mas já encantam.
É muito interessante como, nas mais das vezes, a
realidade no discursos dos políticos, é sempre a projecção dos seus desejos.
E também gostava de acreditar mas lembro-me ainda
de Mark Twain, talvez a notícia da morte da recessão seja um pouco exagerada.
Sem comentários:
Enviar um comentário