É verdade, quando a nação desesperava
e o eterno Comandante Vicente Moura já pensava pela enésima vez em deixar o
"comando" do seu Comité Olímpico, Fernando Pimenta e Emanuel Silva
mostraram a têmpera dos marinheiros portugueses e ao 12º dia dos Jogos
Olímpicos chegaram brilhantemente à prata em K2. 1000 m.
Num país sem "cultura
desportiva", como disse Mário Santos, o chefe da Missão de Portugal nos
Olímpicos, numa daquelas tiradas cheias de profundidade, e ansioso por medalhas,
foram encontrados dois heróis, por alguns dias, poucos, certamente.
Talvez fosse agora a altura certa
para o Comandante Vicente Moura, após uma série de intervenções disparatadas,
como bem regista o Professor Carlos Fiolhais na sua crónica do Público, se
afastar de mansinho desta quinta que governa há demasiados anos sempre num
exercício de surf bem conseguido, apanhando bem a onda das prestações dos
atletas.
As muitas e significativas
vitórias anteriores de Fernando Vicente e Emanuel Silva merecem habitualmente menos
primeiras páginas e referências destacadas que as férias de Cristiano Ronaldo
ou as centenas de contratações de jogadores por parte de clubes de futebol falidos.
Não, não é preconceito, sou um fanático adepto de futebol e praticante durante
o tempo que os joelhos permitiram.
Emanuel Silva, em declarações
posteriores ao feito de hoje, referiu, "apoiem os olímpicos". Esta é uma parte do problema, nós apoiamos,
saudamos efemeramente, vencedores, compõem a auto-estima e fazem-nos acreditar
que também somos bons mas somos menos tolerantes para os que trabalham muito
mas não vencem. Aquela gente que está lá, trabalho muito para lá estar, em
segundos ou minutos joga-se o trabalho de um ou mais ciclos de quatro anos.
Isso deveria ser valorizado, muito valorizado. Relembro que uma das atletas que
esteve numa final, Clarisse Cruz, nos 3 000 m, obstáculos, ganhando a presença
numa eliminatória em que recuperou de uma queda, afirmou que concilia o treino
com o trabalho o que é muito duro e será, provavelmente, a razão da prestação
"medíocre" como ouvi de alguns opinadores sobre esta e outros
atletas.
Na verdade somos bons, temos
gente muito boa em muitíssimas áreas, mas ser bom dá muito trabalho como provam
as mãos do Fernando e do Emanuel que a RTP mostrou após a prova, com calos
enormes.
Só assim se faz brilho ao 12º
dia, de prata.
Sem comentários:
Enviar um comentário