A ideia, caída à nascença, de aumentar em meia
hora o horário de trabalho provocou na altura alguma discussão em torno do tempo
para o trabalho. O Público de hoje divulga dados interessante sobre esta
matéria, demonstrando que está a aumentar o tempo de trabalho, muita gente
começa a trabalhar mais que as quarenta horas legalmente definidas.
A razão para que tal aconteça, decorre da pressão,
por assim dizer, sobre os trabalhadores que mantêm ou conseguem trabalho,
"obrigando-os" a mais tempo de trabalho e, simultaneamente, a um
abaixamento da massa salarial. Este proletarização da economia assenta num
enorme equívoco, sobretudo na ligação estabelecida com a produtividade, cujo
incremento é necessário.
Já aqui afirmei a este propósito, que tenho a
convicção de que o problema da produtividade é, fundamentalmente uma questão de
melhor trabalho e não de mais trabalho. Aliás, algumas opiniões ouvem-se neste
sentido e podemos reparar o que se passa noutros países com cargas de horário
laboral semelhantes à nossa.
Há algum tempo foi divulgado um relatório sobre este
universo na União Europeia cuja leitura permite perceber que, contrariamente a
alguns entendimentos, a duração do trabalho em Portugal é a terceira mais elevada
da Europa, repito, a terceira mais elevada da Europa, embora a competitividade
e produtividade sejam das mais baixas.
Parece assim claro que a produtividade não
decorre fundamentalmente do tempo de trabalho. Existem, tenho-o afirmado,
factores menos considerados e que do meu ponto de vista desempenham um papel
fundamental, a qualificação profissional, a organização do trabalho, a
qualidade dos modelos de organização e funcionamento, no fundo, a qualidade das
lideranças nos contextos profissionais. O nível de desperdício no esforço, nos
meios e nos processos em alguns contextos laborais é extraordinariamente
elevado. O relatório sublinhava isto mesmo. Relembro que os empregadores
portugueses, sobretudo nas médias, pequenas e micro empresas, as que asseguram
a grande fatia dos postos de trabalho, possuem um baixíssimo nível de
qualificação em termos europeus, excepção feita, evidentemente, a alguns
nichos.
Neste cenário, a decisão aumento ainda que de
forma informal do horário de trabalho, a redução de feriados ou dias de férias,
não parecem ser, só por si, as soluções milagrosas de incremento da
produtividade.
Parece-me bem mais potente um esforço concertado
e consistente de apoio à modernização e formação dos empregadores e quadros do
tecido empresarial do que baixar custos do trabalho pelo recurso simplista e
“fácil” ao aumento da carga horária.
O nosso desenvolvimento e crescimento não irá
nunca assentar no empobrecimento de quem trabalha, pagando menos por mais tempo
de trabalho e, muito menos, na tolerância a situações de chantagem em que as
pessoas, para manter o emprego e assegurar um mínimo para a sobrevivência, se sentem obrigadas a aceitar situações
degradantes e humilhantes que configuram uma nova escravatura. Esta situação
afecta tanto a mão de obra menos diferenciada, o trabalho em limpeza por
exemplo em que se "oferecem" 2 € por hora, como a mão de obra mais
especializada com a "oferta" do salário mínimo ou nem isso a gente
com formação superior como há dias era noticiado.
Eu sei que os tempos vão de maneira a que muitas
pessoas preferem umas migalhas, custe o que custar, ao desemprego, mas não
podemos aceitar que vale tudo na forma mais selvagem de funcionamento dos mercados.
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