sábado, 4 de agosto de 2012

AS MÁS PRÁTICAS QUE DÃO CABO DE BOAS IDEIAS

A imprensa dos últimos dias descobriu uma fórmula em uso em algumas instituições de ensino superior, público e privado, no sentido de captar estudantes em tempo de aperto. Usando a possibilidade legal e um bom princípio a que já volto, aceitam estudantes que sob o estatuto de “alunos externos" e não cumprindo os requisitos de entrada no superior se matriculam em unidades curriculares que, tendo avaliação, verão futuramente creditadas por equivalência no curso.
Em primeiro lugar, devo dizer que estou ligado profissionalmente a uma instituição de ensino superior privado, creio que a mais antiga do país, com 50 anos, o que de alguma forma me envolve nesta questão, mas que, por outro lado, me permite falar com algum conhecimento.
O princípio, como dizia, tal como o “esquema” usado por Relvas, parece-me correcto e existe na generalidade dos países europeus. Permite a alguém adquirir conhecimentos de uma determinada área, frequentando uma ou várias disciplinas de cursos superiores, o que me parece meritório, mas a ideia não é CUMPRIR um curso completo, uma formação global desta forma. Neste cenário, entra a portuguesice, ou seja, existe uma situação que é legal e que habilidosamente gerida permite atingir objectivos para as quais não foi pensada.
No caso conhecido através do Ministro Relvas, o princípio, correcto, reafirmo é reconhecer na academia competências que VERDADEIRAMENTE foram adquiridas através de experiência profissional COMPROVADA. A portuguesice transformou esta ideia na forma de oferecer uma licenciatura completa com quatro cadeiras a partir de um currículo profissional apenas relevante em cargos políticos.
Lamento todo este conjunto de episódios que minam a credibilidade do ensino superior privado e publico, criando a dúvida sobre princípios que por si são importantes, o reconhecimento pela academia de que existem saberes e competências que podem ser adquiridas fora da universidade, mas trabalhando mesmo e fazendo prova desses saberes e competências ou, a situação de hoje, a possibilidade de alguém poder matricular-se em uma ou várias cadeiras para adquirir conhecimentos numa determinada área. A forma como a imprensa trata estas matérias tambem nem sempre contribui para que se perceba com clareza a diferença entre pricípios, práticas e instituições.
Fico triste com esta situação mas não surpreendido, conheço o terreno que pisamos.
Espero que o trabalho em curso pela A3ES, de avaliação e acreditação de todo o ensino superior possa ser um contributo para a defesa e promoção da qualidade, e funcione como forma de pressão para uma maior regulação das instituições.

2 comentários:

D`Évora disse...

Há já algum tempo que sou frequentadora do seu blog, está na minha lista de preferidos.
E é só para dizer que a sua escrita é uma delícia, assim como as suas abordagens, são inteligentes e muito interessantes.

Zé Morgado disse...

Agradeço-lhe a gentileza da apreciação e agradeço também a companhia na leitura das notas que aqui vou deixando