Muitas vezes nos referimos à riqueza e
criatividade da língua portuguesa. Um dos aspectos que mais me fascina, é a
forma como mascaramos ideias ou sentimentos através das expressões utilizadas.
Alguns exemplos para ilustrar este comportamento.
Quando a alguém, sisudo e triste, perguntamos “o
que é que tens?”, deveríamos utilizar um mais difícil “o que é que te falta?”
Quando a uma pergunta sobre o seu bem-estar, nos
respondem “assim, assim” ou “vamos andando”, deveremos entender “não estou bem”.
Quando a resposta a um retórico “tudo bem?” é um
apagado “cá estamos”, deveremos acrescentar, “mal, cansado e sem ânimo”.
Quando a uma solicitação de ajuda ou conselho
ouvimos “nem sei o que te diga”, deveremos entender, “sei o que te diga, mas
não sei se devo ou posso”.
Quando uma apreciação a algo é “nada por aí
além”, deveremos considerar que é algo “muito para além”.
Quando alguém “não é particularmente
interessante”, quer dizer que é um chato que não se aguenta. Noutra formulação,
quando alguém “até nem é mau tipo”, deve entender-se que é um fulano
intragável.
Quando dizemos de alguém, “é esforçado”, mais
provavelmente achamos esse alguém pouco inteligente.
A incerteza sobre “como é que te hei-de explicar”
significa, na verdade, “duvido que sejas capaz de entender”.
Muitos outros exemplos poderíamos considerar. Já
imaginaram o custo pessoal e social que teria a transparência no dizer?
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