Sim, eu sei que será uma nota disparatada e romântica, mas
terão a generosidade de a desculpar.
Segundo a imprensa de hoje, um grupo com capitais angolanos
organiza-se no sentido de concorrer à anunciada privatização da RTP, tarefa a
cargo do Dr. Relvas, personagem que não se recomenda. Desenvolvimentos posteriores e as sucessivas trapalhadas do Dr. Relvas que levam o Passos Coelho a resguardá-lo até a poeira assentar e surge então um empregado, bem empregado certamente, do Governo, o Dr. Borges, um homem cujo currículo, o torna particularmente habilitado para entregar aos privados tudo o que possa ser minimamente atractivo. Assim, diz o Dr. Borges, entrega-se a RTP a um privado, o que pagar mais, presume-se, fecha-se a RTP2, despedede-se quem tem de se despedir, os portugueses continuam a colocar dinheiro para "compensar" o serviço público, com a "pequena diferença" de que agora o nosso dinheiro vai de forma transparente para um privado, uma PPP na comunicação social e ... segue a privatização. Aliás, o Dr. Montenegro, líder parlamentar do PSD, acha este "cenário" um ovo de Colombo, o estado paga, o concessionado lucra, está certo.
Também sei que o dinheiro não tem pátria, o mercado não tem
alma nem ética e que o resto, o resto … é a economia, estúpido.
Mas de um povo que não se sabe governar nem deixa que o
governem, a um país que vai alienando tudo o que representa a sua soberania,
entregando algumas empresas que são representativas e úteis aos interesses
nacionais, não é por acaso que se designam por empresas de “bandeira”, a um
mercado voraz e que se instala comendo a carne e deixando os ossos, é um
caminho que inquieta.
A GALP já com parte nas mãos dos angolanos, a EDP, que teve
de ser privatizada para, hipocrisia das hipocrisias, passar para as mãos de uma
empresa estatal chinesa, a REN, a ANA e a TAP que estão a caminho, os
Estaleiros de Viana, um dos pilares de uma indústria naval destruída num país
que tem justamente no mar uma das melhores bases para o seu desenvolvimento,
são apenas exemplos de um caminho que vamos tomando no sentido de passarmos da
soberania à feitoria.
É óbvio que sou sensível à questão dos custos e da
rentabilidade de um sector empresarial nas mãos do estado, mas, mais uma vez
por ignorância e ingenuidade, tenho alguma dificuldade em perceber como é que
sendo algumas das empresas e sectores em privatização de exploração deficitária
nas mãos do estado, se tornam investimentos atractivos nas mãos de privados
estrangeiros que não são propriamente instituições de solidariedade e
assistência humanitária.
Provavelmente, em alguns destes negócios os interessados, não
procuram só o lucro económico, correm por dividendos de outra natureza. Mais
uma razão para nos preocuparmos com esta passagem da soberania sobre o que era
nosso à feitoria sobre o que é dos outros exercida por um conjunto de feitores sem mandato para tal função.
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