quinta-feira, 23 de agosto de 2012

DA SOBERANIA À FEITORIA

Sim, eu sei que será uma nota disparatada e romântica, mas terão a generosidade de a desculpar.
Segundo a imprensa de hoje, um grupo com capitais angolanos organiza-se no sentido de concorrer à anunciada privatização da RTP, tarefa a cargo do Dr. Relvas, personagem que não se recomenda. Desenvolvimentos posteriores e as sucessivas trapalhadas do Dr. Relvas que levam o Passos Coelho a resguardá-lo até a poeira assentar  e surge então um empregado, bem empregado certamente, do Governo, o Dr. Borges, um homem cujo currículo, o torna particularmente habilitado para entregar aos privados tudo o que possa ser minimamente atractivo. Assim, diz o Dr. Borges, entrega-se a RTP a um privado, o que pagar mais, presume-se, fecha-se a RTP2, despedede-se quem tem de se despedir, os portugueses continuam a colocar dinheiro para "compensar" o serviço público, com a "pequena diferença" de que agora o nosso dinheiro vai de forma transparente para um privado, uma PPP na comunicação social e ... segue a privatização. Aliás, o Dr. Montenegro, líder parlamentar do PSD, acha este "cenário" um ovo de Colombo, o estado paga, o concessionado lucra, está certo.
Também sei que o dinheiro não tem pátria, o mercado não tem alma nem ética e que o resto, o resto … é a economia, estúpido.
Mas de um povo que não se sabe governar nem deixa que o governem, a um país que vai alienando tudo o que representa a sua soberania, entregando algumas empresas que são representativas e úteis aos interesses nacionais, não é por acaso que se designam por empresas de “bandeira”, a um mercado voraz e que se instala comendo a carne e deixando os ossos, é um caminho que inquieta.
A GALP já com parte nas mãos dos angolanos, a EDP, que teve de ser privatizada para, hipocrisia das hipocrisias, passar para as mãos de uma empresa estatal chinesa, a REN, a ANA e a TAP que estão a caminho, os Estaleiros de Viana, um dos pilares de uma indústria naval destruída num país que tem justamente no mar uma das melhores bases para o seu desenvolvimento, são apenas exemplos de um caminho que vamos tomando no sentido de passarmos da soberania à feitoria.
É óbvio que sou sensível à questão dos custos e da rentabilidade de um sector empresarial nas mãos do estado, mas, mais uma vez por ignorância e ingenuidade, tenho alguma dificuldade em perceber como é que sendo algumas das empresas e sectores em privatização de exploração deficitária nas mãos do estado, se tornam investimentos atractivos nas mãos de privados estrangeiros que não são propriamente instituições de solidariedade e assistência humanitária.
Provavelmente, em alguns destes negócios os interessados, não procuram só o lucro económico, correm por dividendos de outra natureza. Mais uma razão para nos preocuparmos com esta passagem da soberania sobre o que era nosso à feitoria sobre o que é dos outros exercida por um conjunto de feitores sem mandato para tal função.

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