O Senhor Comandante Vicente Moura
que agora parece estar mesmo de saída do Comité Olímpico, apesar de ser melhor esperar para
confirmar, depois de ter afirmado que tínhamos nos Jogos Olímpicos de Londres a representação
melhor preparada de sempre, na hora do balanço, entendeu por bem desfazer o
País em matéria de desporto de base,
bater no poder político que olha para o desporto, que não o futebol
profissional, como uma oportunidade de brilhar nas fotografias à boleia dos
resultados dos aletas e que discretamente se defende quando as coisa correm mal,
não assumindo a responsabilidade política que lhe cabe.
Entusiasmado com a sua própria
prestação, reclama um retorno à Mocidade Portuguesa, sem a carga política
evidentemente, como forma de relançar o desporto escolar algo de basicamente
inexistente no nosso país.
Na verdade, acho que o Senhor Comandante
Vicente Moura tem razão na ausência quase total de actividade desportiva nas
nossas crianças e adolescentes. Recordo um trabalho há pouco divulgado na
Lancet, referindo que em Portugal, entre os adolescentes, dos 13 aos 15, quatro
em cada cinco não são fisicamente activos.
No entanto, acho curioso, e só isso, que Vicente Moura
presidente do Comité Olímpico Português desde, creio, 1997, só agora tenha
manifestado este desagrado. Mais interessante ainda é a sua disparatada
referência à Mocidade Portuguesa, apesar de lhe retirar a "carga política".
Talvez o Senhor Comandante não se
lembre, ou não queira lembrar-se, mas a essência da Mocidade Portuguesa era
exactamente a carga política, não a prática desportiva que, aliás, se pode
aferir pelos resultados alcançados nas grandes competições pelos atletas, por
exemplo, da minha geração que conhecemos a MP como era designada. As gerações
mais recentes alcançaram obviamente melhores resultados pelo que a construção
de uma elite desportiva e da massificação da prática não de corre da existência
de uma Mocidade Portuguesa.
Como certamente o Senhor
Comandante saberá, organizações do tipo da Mocidade Portuguesa só sobrevivem em
países cuja vida democrática, social e cultural não pode constituir-se como
exemplo do que quer que seja para gente em crescimento.
Como certamente o Senhor
Comandante Vicente Moura saberá, a esmagadora maioria dos países com cultura e
prática desportiva mais massificada e com resultados ao nível das elites em
diferentes modalidades, não possuem estruturas do tipo Mocidade Portuguesa.
O Senhor Comandante certamente
saberá que durante anos o parque escolar português era na sua maioria um deserto
em matéria de espaços e equipamento desportivos e saberá de uma cultura desportiva
assente fundamentalmente no futebol e assim alimentada.
O Senhor Comandante Vicente Moura
certamente saberá de como o desporto dos mais novos tem sido garantido,
sobretudo com o esforço de milhares de pequenos clubes no limiar da sobrevivência e de muitos milhares de
voluntários que contribuem para que muitos miúdos, ainda assim, acedam à
prática desportiva.
O Senhor Comandante Vicente Moura
saberá certamente da desvalorização da Educação Física como área
curricular por parte do Ministério da
Educação e Ciência e não lhe conheço, mas admito que exista, reacção forte a
tal medida.
O Senhor Comandante Vicente Moura
que tem sido parte do problema a que se refere, proferiu mais uma olímpica
asneira, aliás, na senda várias outras pois é um atleta consistente e
persistente.
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