Não passa de notícia de rodapé que no meio da turbulência
dos grandes problemas assim ficará, mas chamou-me a atenção.
No JN lê-se que os habitantes de uma povoação do norte de
Portugal querem expulsar mulheres que se prostituem na beira de uma estrada nacional
próxima, afirmam-se indignados com a situação.
Algumas das mulheres ouvidas referem que o recuso à
prostituição é uma questão de sobrevivência, relatando situações de desemprego
e necessidades familiares, incluindo filhos.
Este quadro é elucidativo e mostra os efeitos trágicos dos
tempos que vivemos. Ontem noticiava-se que mais de metade dos desempregados não
tem acesso ao subsídio de desemprego. As pessoas vivem de quê, sustentam-se e
sustentam os seus como?
Já não é a primeira referência que surge nos últimos tempos
relativa ao aumento de mulheres que se prostituem como forma de sobrevivência
pessoal e de suporte a filhos e família. Muitas fazem-no em situações
particularmente degradantes, ainda que o sejam sempre, sujeitas a tudo e mais
alguma coisa, na beira da estrada, vivendo a miséria humana no que tem de mais
feio, a venda de si mesmo.
Percebe-se a indignação do povo da localidade próxima com a
vizinhança do local de trabalho das prostitutas, mas talvez este alvo de
indignação não deva ser o único nem, certamente, o principal. A indignação
decorre da indignidade do roubo da dignidade.
Aliás, com toda a certeza ninguém dessa localidade recorrerá,
seria indigno, aos serviços das mulheres que vendem pela sobrevivência o único
bem que possuem, o corpo, sendo que, algumas, provavelmente nem do seu corpo
serão soberanas.
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