Um estudo da Faculdade de Motricidade Humana
envolvendo cerca de 3000 alunos vem
sublinhar que a actividade física se repercute positivamente, entre outros
aspectos, no rendimento escolar.
Recordo também um trabalho há pouco divulgado na Lancet
referindo que em Portugal, entre os adolescentes,
dos 13 aos 15, quatro em cada cinco não são fisicamente activos.
Por coincidência estes dados pouco simpáticos e
animadores em termos de qualidade de vida actual e futura surgem num altura em
que se assiste a uma desvalorização por parte do MEC do peso curricular da
Educação Física. Mais algumas notas a este propósito.
Segundo o último Relatório Health Behaviour in
School-aged Children da OMS, Portugal é um dos países envolvidos no estudo, 39
da Europa e América do Norte, que apresenta mais excesso de peso entre a
população mais jovem, 5º lugar aos 11 anos, 4º lugar aos 13 e 6º aos 15 anos.
Internamente, dados de há meses apresentados no XIV Congresso Português de
Obesidade, referem, sem novidade pois vai ao encontro de outros resultados, que
22.6 % das crianças dos 10 aos 18 anos estão em situação de pré-obesidade e 7.8
% já são obesos.
Quanto aos adultos, sem surpresa os números
pioram, 50% dos homens e 30% das mulheres estarão em situação de pré-obesidade
ou obesidade.
Na verdade, a obesidade infantil afecta um número
muito significativo de crianças e adolescentes, assenta fundamentalmente nos
estilos de vida dos mais novos de que releva o sedentarismo excessivo e a
péssima qualidade genérica ao nível dos hábitos alimentares. É de registar que
as escolas têm vindo a fazer um esforço no sentido de aumentar a qualidade
alimentar da oferta, o que não parece ser acompanhado pelas famílias, ilustrado
pela desproporcionalidade do consumo de água e de refrigerantes no contexto
familiar.
Creio ainda de sublinhar que estudos realizados
em Portugal mostram que a obesidade infantil é já um problema de saúde pública,
implicando, por exemplo, o disparar de casos de diabete tipo II em crianças.
Estas abordagens suscitam com frequência algumas
reacções de pessoas que entendem que qualquer discurso ou iniciativa no âmbito
dos comportamentos configuram uma intromissão e desrespeito dos direitos
individuais. No entanto, insisto na necessidade de iniciativas e discursos que
promovam comportamentos mais saudáveis sobretudo quando se trata de crianças e
adolescentes que são obviamente mais vulneráveis e desinformadas.
As consequências potenciais deste quadro em
termos de saúde e qualidade de vida são muito significativas, quer em termos
individuais, quer em termos sociais. Assim, e como já tenho referido, um
problema de saúde pública desta dimensão e impacto justifica a definição de
programas de prevenção, educação e remediação que o combatam.
Apesar das eventuais reacções contra o que chamam
de “fundamentalismo nos hábitos individuais”, creio que são também de ponderar as
implicações colectivas e sociais destes problemas.
Além de que todos sabemos que o excesso de peso e
os riscos associados não serão, para a esmagadora maioria das miúdos e graúdos
nessa situação, uma escolha individual, é algo de que não gostam e sofrem, de
diferentes formas, com isso.
Ser o MEC a desvalorizar a prática da Educação
Física é que parece um mau sinal.
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