Era uma vez uma menina, chamava-se Receosa, tinha
sete anos. Parecia uma menina como as outras crianças, e era, e tinha uns pais
que se pareciam com os outros pais, e eram.
Explicando melhor, a menina crescia com os medos
e receios com que os miúdos crescem, uns maiores, outros mais pequenos e os
pais ajudavam a menina a crescer como os medos e receios com que os pais ajudam
os filhos a crescer, uns maiores e outros mais pequenos.
Mas houve uma altura em que os pais começaram a
ter medos maiores do que era habitual e ficaram muito assustados. Por isso, a
Receosa, quando viu os pais muito assustados e sentiu os seus medos passou a
ter ainda mais medos e receios do que habitualmente tinha o que, como é
natural, serviu para aumentar os receios dos pais.
Um dia, os pais da Receosa encontraram na escola
o Professor Velho, o que está na biblioteca e fala como livros, e contaram as
palavras das suas inquietações, dos seus medos.
O Velho, naquele jeito dele de falar baixo disse,
“Toda a gente, miúdos e crescidos, tem
alguns medos. Quando encontramos e percebemos os medos que estão na cabeça
dos miúdos ou achamos que alguns medos os devem tornar cuidadosos é preciso
ajudá-los a lidar com esses medos, falando sobre eles, sem medo, para que não
se assustem ainda mais.
Quando têm que lidar sós com os medos, não
sabem o que fazer com eles e então é que se sentem mais atrapalhados. Quando os
crescidos falam sobre os medos, é bom que não pareçam assustados e com muito
medo, porque os pequenos, que precisam de sentir protecção e segurança dos mais
velhos, vão sentir-se mais desprotegidos.
Além disso, também podemos ajudar a Receosa a
olhar para tudo o que é bonito e não faz medo, existem muitas coisas, ela vai
sentir-se mais forte”.
“Velho, isso quer dizer que achas que nós podemos
ajudar a Receosa a ficar com menos medo?”, perguntaram os Pais.
“Claro que podem, mas primeiro tentem vocês
ficar com menos medos e receios, mais tranquilos, ela vai sentir-se melhor”,
disse o Professor Velho.
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