Era uma vez um rapaz, tinha oito anos e
chamava-se Inseguro. Era um miúdo esperto mas tinha sempre algum receio de
fazer o que lhe pediam, tinha medo de não fazer bem as coisas.
O Inseguro era quase sempre assim, em casa, na
escola ou a brincar com os amigos. Tinha tanto receio de não fazer bem feito
que, quando a professora lhe pedia para inventar uma história, o Inseguro
preferia contar uma história já inventada dizendo que era mais bonita do que a
que ele tinha começado a inventar. Nunca se oferecia para dar uma resposta
quando a professora fazia alguma pergunta para o grupo. Quando era interpelado
em alguma circunstância, o Inseguro respondia muito baixinho, tinha medo de não
responder bem.
Aos poucos, foi ficando mais calado, discreto,
enfiado no canto mais cantinho que a sala tinha. A professora, quase sem dar
por isso, foi deixando de falar com ele, até se esquecia, dizia ela, e os
colegas achavam que o Inseguro não era grande companhia para trabalhar ou
brincar pelo que também deixaram de lhe dar atenção. O Inseguro acomodava-se no
sítio mais discreto que encontrasse.
Um dia, o Inseguro não apareceu em casa à hora do
costume, os pais, preocupados, foram até à escola que estava quase a fechar, já
sem ninguém.
Procuraram e no canto mais cantinho da sala de
aula, estava um vulto que mal se via. O Inseguro, sem ninguém se dar conta,
estava a ficar transparente. Já era muito difícil reparar nele, quase não se
percebia que existia.
Se conhecerem algum miúdo que também esteja a
ficar transparente, assim como o Inseguro, desafiem-no para brincar, vestir-se e pintar-se
às cores e depois façam disparates e caretas para um espelho.
Ele vai rir-se e não se esquecerá de que existe.
Nem nós.
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