As estruturas que regulam as praxes de nove
universidades e institutos vão, segundo a imprensa de hoje, apresentar um
documento comum que estabeleça um conjunto de princípios que permita regular
os comportamentos de praxe e tentar pôr fim aos abusos que regularmente têm
vindo a acontecer, alguns com consequências particularmente graves que, aliás,
já motivaram a tomada de posições proibitivas por parte de algumas reitorias e direcções de
escola.
Como várias vezes já aqui afirmei partindo de um
conhecimento razoavelmente próximo deste universo, a regulação dos
comportamento nas praxes parece-me absolutamente indispensável. Parece-me ainda
importante que este movimento de regulação integre o respeito por posições
diferentes por parte dos estudantes sem que daí advenham consequências
implícitas ou explícitas. Estamos a falar de gente crescida e, espera-se,
auto-determinada numa posição favorável ou desfavorável.
Na verdade, de forma aparentemente tranquila
coexistem genuínas intenções de convivialidade, tradição e vida académica com
boçalidade, humilhação e violência sobre o outro, no caso o caloiro.
Apesar dos discursos dos seus defensores,
continuo a não conseguir entender como é que, a título de exemplo, humilhar
rima com integrar, insultar rima com ajudar, boçalidade rima com universidade,
abusar rima com brincar, ofender rima com acolher, violência rima com
inteligência ou coacção rima com tradição. Devo, no entanto sublinhar que não
simpatizo com estratégias de natureza proibicionista, sobretudo em matérias que
claramente envolvem valores. Nesta perspectiva, parece-me um passo positivo a
anunciada iniciativa de regulação que envolverá diferentes academias embora o efeito
só possa ser percebido daqui a algum tempo quando se iniciar o ano lectivo.
Como também afirmo sempre que me refiro a esta
questão das praxes, talvez as minhas reservas sejam as de alguém desintegrado,
isolado, descurriculado, dessocializado e taciturno que não acedeu ao
privilégio e experiência sem igual de ser praxado ou praxar. A minha frequência
do ensino superior, enquanto estudante, decorreu num tempo em que as praxes
tinham entrado em licença sabática, por assim dizer.
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