Apesar do esforçado trabalho e
gasto de tempo no sentido de criar o clima e as circunstâncias para recusar a
indigitação de António Costa para formar Governo o Presidente da República teve
de ceder.
Não se torna aceitável torcer a
Constituição e a realidade apesar das opiniões desinteressadas das
individualidades chamadas a aconselhar Cavaco Silva.
Assim sendo iremos ter um Governo
da responsabilidade do PS.
Como já escrevi e muita gente
afirma são tempos históricos e, do meu ponto de vista, uma oportunidade única
para recolocar a política aos serviço das pessoas. Uma nota. Não sou
simpatizante fidelizado de nenhum dos partidos signatários do acordo o que não
obsta a que tenha um posicionamento de natureza ideológica, sim ideológica, que
me faça assumir a esperança num tempo diferente.
Para isso é preciso que, por uma
vez, se coloquem interesses nacionais acima de interesses partidários,
característica persistente do nosso universo político.
Para isso é preciso que uma
agenda para as pessoas, para todas as pessoas, se sobreponha a uma agenda para
algumas pessoas, os aparelhos partidários e a corporação de interesses que
envolve. Estamos todos bem cientes do que têm sido décadas de partidocracia
instalada e das suas consequências.
É também claro, basta ler e ouvir
muitos opinadores e os títulos de parte da imprensa para perceber como um
Governo de esquerda vai ser recebido, será o caos, a catástrofe. Este discurso
tem autores, individuais e institucionais, nacionais e, evidentemente,
internacionais, estamos na era da globalização. O dilúvio que estes profetas
anunciam vai surgir logo agora que estávamos à beira do paraíso.
Foi coincidência e nem se percebe
porque é que a maioria absoluta das pessoas que votaram não votaram na
continuidade das políticas mesmo tendo sido prometido algum alívio na
"intensidade" da austeridade. Recorde-se o deplorável episódio sobre
a prometida devolução da sobretaxa de IRS.
Para o cenário de catástrofe ser
completo, dirão alguns, faltará a eleição presidencial de Sampaio da Nóvoa, também
um perigoso pensador posicionado à esquerda do espectro político. As hesitações
e deriva do PS nesta matéria podem dar uma "ajuda" a Marcelo Rebelo
de Sousa uma vez que a inócua e fabricada candidatura de Maria de Belém, é isso
mesmo, inócua do ponto de vista da esquerda e um "favorzinho" ao
mediático "entertainer político". Também aqui, por razões que já
tenho referido me parece essencial que em Belém resida alguém que cuja
candidatura emerge da cidadania e não da partidocracia sem que isso signifique
a hostilização dos partidos, instrumentos essenciais da democracia nos termos
da Constituição.
De tudo isto resulta que o
Governo com o apoio da esquerda que vier a tomar posse os partidos signatários
estão condenados a não falhar na criação de condições que o viabilizem e
sustentem num horizonte temporal de legislatura e com estabilidade.
As dificuldades internas e
externas serão imensas, veja-se o trajecto da Grécia, os mercados e e os seus
servidores desejam um falhanço que devolva o poder a quem os serve. Podemos,
aliás, ter a certeza de que se esforçarão nesse sentido.
Para isso é fundamental que o PS
não cometa erros crassos cometidos em anteriores experiências governativas. É
preciso que BE e PCP, independentemente dos seus programas, sustentem entendimentos
comuns em matérias que assegurem governabilidade e estabilidade. Vai ser
requerida uma lucidez e um escrutínio de equilíbrios e prioridades como nunca
sentimos.
Como não estávamos num paraíso
construído pelo PSD e CDS-PP também não vamos entrar num paraíso construído
pelo PS, BE e PCP. As dificuldades continuarão imensas. O caminho vai ser
difícil, os obstáculos e armadilhas vão ser muitos e grandes, a margem de erro
é estreita, mas não podem falhar na construção e manutenção de uma outra via mais
amigável para as pessoas. É esse o sentido da mudança que desejamos.
Não podem falhar por
responsabilidade vossa.
A história não vos absolverá.
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