Algumas notas sobre esta questão
aparentemente paradoxal, redes que se definem como sociais induzem … solidão.
Segundo dados do INE relativos a
2013, 70% dos portugueses utilizadores da Internet usavam as redes sociais, um
valor significativamente acima de 57%, a média para a União Europeia. Noutras
dimensões de utilização da net as diferenças são mais próximas.
Como utilizador deste universo,
por isso estão a ler-me, a aparente apetência dos portugueses pelas redes
sociais vem ao encontro da minha experiência, aliás, estimulante. Algumas linhas de agradecimento pessoal e um pequeníssimo alerta.
Na verdade, é entusiasmante a
quantidade de pessoas que se me dirigem convidando-me para amigo e propondo-me
a integração numa rede social. De facto, numa época em que nos referimos, aqui
no Atenta Inquietude tenho-o feito com frequência, ao isolamento em que muita
gente parece estar, surpreende-me a disponibilidade solidária com que tanta
gente encara o risco de eu estar sem, ou com poucos amigos.
A surpresa é tanto maior quando
verifico que um número significativo dos convites vem de pessoas que não tenho
ideia de conhecer de lado algum. E mais surpreendido fico com a generosidade
com que somos presenteados com toda a espécie de informação sobre a vida dos
nossos amigos num esforço notável para que nos sintamos próximos e por dentro,
às vezes parece que estamos mesmo ali a partilhar o jantar ou a viagem. É
bonito.
Já pensei que será gente que
assumiu uma espécie de missão em regime de voluntariado na qual se empenham em
oferecer amizade a eventuais necessitados. É bonito e cria uma ilusão de
esperança na humanidade, afinal as pessoas continuam a empenhar-se na relação
com o outro e a preocupar-se com a amizade, o lema é sempre ligados, sempre
amigos.
Por outro lado, uma das fórmulas
divulgadas "gostava de te adicionar como amigo" é particularmente
feliz, eu acho. A ideia de ir somando amigos, chegando a centenas ou, quem
sabe, a milhares, permite sonhos de popularidade e amizade nunca antes
imaginados. Estou completamente rendido.
Por favor, não desistam de enviar
a toda a gente, a mim também, as fantásticas mensagens que contêm os criativos
e solidários "gostava de te adicionar como amigo". Também aprecio
variantes como "tituxa enviou-te um Pedido de Amizade" ou até mesmo
algumas mais “aconchegantes” que começam com qualquer coisa como “Meu bem, me
chamo … e quero muito te conhecer”.
Um mundo assim, é um mundo
diferente.
Bem-haja pela atenção.
Já agora, talvez fosse bom
lembrar que esta atracção pelas redes sociais e pela promoção da amizade contém
riscos importantes para crianças e adolescentes, o cyberbullying ou o
isolamento, são apenas dois dos mais frequentes. É também razoavelmente claro que a presença assídua nas redes sociais por parte de muitos adultos pode esconder uma enorme solidão que se "mascara" relações sociais ... virtuais.
Também é interessante recordar
que alguns estudos mostram o peso excessivo que estes comportamentos têm na
vida de muitas pessoas e famílias, inibindo a relação interpessoal e criando
constrangimentos à acção educativa. Curiosamente, crianças e adolescentes
referem justamente estes aspectos face ao comportamento dos seus pais, como
mostrou um estudo divulgado há pouco tempo nos EUA e que, aliás, aqui citei.
Na verdade e finalmente, em
algumas circunstâncias, as redes sociais são tudo menos ... sociais.
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