Numa escola inglesa, lê-se no JN,
uma criança cega foi proibida de usar bengala pela direcção da escola. A
justificação remete para a segurança das outras crianças que, entende a direcção da escola, estará ameaçada pela bengala da criança cega de sete anos.
Não vale pena comentar a decisão
de tal maneira ela é absurda, própria de tempos de absurdidade como refere Bracinha Vieira.
No entanto, apesar de se passar
lá longe, num país que também tem a educação inclusiva como inspiradora das
suas políticas educativas, importa estar atento ao que se passa à nossa volta
nesta matéria.
Na verdade, a educação inclusiva
não decorre de uma moda ou opção científica, é matéria de direitos pelo que
deve ser assumida através das políticas e discutida na sua forma de operacionalizar.
Aliás, poderá afirmar-se, citando Biesta, que a história da inclusão é a
história da democracia, a história dos movimentos que lutaram pela participação
plena de todas as pessoas na vida das comunidades, incluindo, evidentemente a
educação.
Nesta perpectiva, os tempos que
vivemos são tempos de exclusão, de competição, de desregulação ética e de
oscilação de valores que atingem, evidentemente, os mais frágeis, caso das
crianças e jovens com necessidades educativas especiais e as suas famílias, em
Inglaterra como cá em diferentes formas.
As políticas educativas em curso
são particularmente inquietantes deste ponto de vista. Numa política educativa
de selecção, "darwinista", para os mais "dotados" os que
conseguem sobreviver, a presença de alunos com necessidades especiais só atrapalha.
Assim sendo, colocam-se duas hipóteses, ou se mandam embora da escola de volta
às instituições a quem se vai garantindo uns apoios, a diminuir evidentemente,
para que por lá mantenham estes alunos, sobretudo adolescentes e jovens ou,
segunda hipótese e mais barata, nega-se de forma irresponsável e administrativa
sua condição de alunos com necessidades especiais, "normalizam-se" e
passam a ser tratados como todos os outros alunos e espera-se que a selecção e
a iniciativa das famílias leve os meninos que atrapalham para fora da sala de
aula, primeiro, e para fora da escola, depois.
Voltando a Biesta este trajecto é
uma luta contínua, com avanços com recuos e com enormes dificuldades.
Muito já se conseguiu mas ainda muito
está por fazer
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