No Observador, para além da parte
tóxica, a agenda política de opinadores e cronistas, surgem algumas peças que
merecem reflexão. Hoje, por exemplo, referia-se a situação de mulheres que optam por deixar de
trabalhar para assegurarem a maternidade, são designadas como “MATI”, Mãe a
Tempo Inteiro.
Para além da questão relativa à situação
económica que permita ou obrigue a tal situação e que não comento, umas notas breve começando por
uma história que a leitura da peça me fez recordar.
Há já alguns anos numa conversa com
pais e mães de crianças a frequentar creche jardim-de-infância uma mãe levantou
uma questão começando por afirmar com ar muito assertivo que “sou mãe a tempo
inteiro”, significando, tal como na peça do Observador, que não trabalhava,
apenas era … mãe.
Tal como quando ouvi aquela mãe também
hoje acho desadequada a designação. Qualquer mãe que seja Mãe, qualquer pai
que seja Pai, são Mãe e Pai a tempo inteiro, independentemente do tempo com que lidam com os filhos.
Não existem Mães e Pais a “tempo
parcial”, serão apenas pessoas com filhos, provavelmente, todos conheceremos
algumas.
Não se trata de uma birra da
minha parte, trata-se de evitar uma designação que é injusta para quem, por
múltiplas razões não pode estar sempre junto dos filhos. Não é por isso que não
podem ser consideradas Mães ou Pais a tempo inteiro ou, pior ainda, sentirem-se
culpadas por não o poder ser. Parece-me importante que se afirme este entendimento junto de muitos pais.
Aliás, as crianças, mesmo muito novas, também precisam de “respirar” e de autonomia e nada garante que uma permanente
proximidade seja positiva só por acontecer, pode ser asfixiante e não saudável.
Nunca interrompi a minha carreira
profissional para ser pai a tempo inteiro, a minha mulher não interrompeu a
carreira profissional para ser mãe a tempo inteiro mas, desculpem lá, ainda
hoje, passados trinta e quatro anos de parentalidade, nos consideramos Pais a
tempo inteiro. Até sempre.
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