Ontem, a imprensa assinalava a
passagem de 30 anos sobre a utilização do código de barras em Portugal. Uma
pequena história sobre este avanço civilizacional.
Era uma vez um homem a quem os
pais, certamente enganados por alguma publicidade mais agressiva, puseram o
nome de Código de Barras.
A vida do homem foi completamente
determinada pelo nome. Desde pequeno perdeu a hipótese de ter uma vida
discreta, privada, pessoal como devem ser as vidas. Para qualquer lado que o
levassem havia sempre um leitor, um aparelho, que identificava o Código de
Barras. Em pequeno não lhe parecia importante, primeiro não dava por isso e
depois achava uma certa graça identificarem-no logo que o viam.
À medida que crescia as coisas
começaram a complicar-se, sabia-se sempre onde estava, o que fazia, com quem
estava, etc. Agora o Código de Barras sentia-se verdadeiramente incomodado.
Ao chegar a adulto a vida
tornou-se um drama para o Código de Barras. Não conseguiu construir a família e
a relação que desejava e com que sonhara. Não encontrava ninguém disposto a
passar a vida junto de um Código de Barras, sempre exposto. Os empregos
sucediam-se sem que o Código de Barras encontrasse a tranquilidade que ansiava.
Para onde andasse, em qualquer lugar que estivesse, lá existia um maldito
leitor que o identificava e controlava até ao limite.
A pressão cresceu tanto que o
Código de Barras não aguentou e cedeu. Suicidou-se dentro de um ecoponto
esperando renascer reciclado e sem código de barras o que lhe garantiria uma
vida mais discreta e quase anónima.
Desde então, naquela terra nunca
mais foi permitido considerar alguém um Código de Barras.
Bom fim-de-semana.
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