Entre 2012 e 2015 aposentaram-se cerca
de 10 000 professores para além de 1340 rescisões. Dado que entraram 4740
regista-se um bom negócio para a política contabilística do MEC, os novos
professores entram para fase inicial da carreira e ficam, portanto, bastante
mais barato.
Esta situação, a aposentação, que
muita gente relativiza não só às alterações salariais e económicas mas também
ao clima de desânimo que se tem vindo a instalar nas escolas, fruto de
políticas que têm mais de contabilísticas que de educativas, recorda-me um
estudo realizado no Porto envolvendo professores que mostrou que a maioria dos
inquiridos revelava uma enorme dificuldade em desligar-se dos problemas de
natureza profissional mesmo quando está fora da escola, em casa, por exemplo.
Não me lembro dos contornos
específicos do estudo, mas os seus resultados inscrevem-se no conhecimento já
adquirido de que a profissão docente é uma das mais sujeitas a stresse como,
aliás, o são todas as que envolvem interacção social agudizando-se quando o
contacto envolve tensão ou sofrimento, daí o stresse em docentes e em pessoal
da área da saúde.
Esta expressa dificuldade dos
professores em se abstrairem dos problemas de natureza profissional, recorda-me
sempre algo que ouvi já há alguns anos a um Professor velho que quando comentei
que a situação de reforma lhe dava descanso, se riu e disse que “professores e
pais nunca se reformam ou vão de férias”.
Embora com uma pontinha de
excesso que se desculpa, a dimensão ética e afectiva das funções, para além das
questões profissionais no caso dos professores, é tão significativa que
dificilmente se consegue “escapar” ainda que transitoriamente, e muito menos
definitivamente, à condição de pai ou de professor.
É bom de ver que este quadro está
naturalmente mais presente nos bons professores, a esmagadora maioria. Os bons
professores, tal como os pais, têm sempre os alunos, os filhos, “perto” de si,
ou seja, não lhes é fácil libertarem-se da inquietação que sentem com o
bem-estar dos miúdos e com a qualidade do trabalho.
Em situações informais em que
algum ou alguns professores estejam presentes é muito frequente que a conversa,
mais ou menos rapidamente, se direccione para as questões da vida dos miúdos e
da escola.
Não raramente, este envolvimento
de muitos professores, horas extraordinárias por assim dizer, tem implicações
na sua vida pessoal e familiar que muitos entendem ser “ossos do ofício” e
ajudam a explicar os resultados do estudo que referi.
O Professor velho tem mesmo
razão, os professores e os pais não se reformam nem vão de férias, estão sempre
a tempo inteiro.
Muita desta gente que agora está
a sair da escola, muitos dos quais a contragosto, na verdade não vai mesmo
reformar-se da sua condição de professores, serão sempre professores, obrigado
por isso.
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