sábado, 7 de novembro de 2015

OS PROFESSORES NUNCA SE REFORMAM NEM VÃO DE FÉRIAS

Entre 2012 e 2015 aposentaram-se cerca de 10 000 professores para além de 1340 rescisões. Dado que entraram 4740 regista-se um bom negócio para a política contabilística do MEC, os novos professores entram para fase inicial da carreira e ficam, portanto, bastante mais barato.
Esta situação, a aposentação, que muita gente relativiza não só às alterações salariais e económicas mas também ao clima de desânimo que se tem vindo a instalar nas escolas, fruto de políticas que têm mais de contabilísticas que de educativas, recorda-me um estudo realizado no Porto envolvendo professores que mostrou que a maioria dos inquiridos revelava uma enorme dificuldade em desligar-se dos problemas de natureza profissional mesmo quando está fora da escola, em casa, por exemplo.
Não me lembro dos contornos específicos do estudo, mas os seus resultados inscrevem-se no conhecimento já adquirido de que a profissão docente é uma das mais sujeitas a stresse como, aliás, o são todas as que envolvem interacção social agudizando-se quando o contacto envolve tensão ou sofrimento, daí o stresse em docentes e em pessoal da área da saúde.
Esta expressa dificuldade dos professores em se abstrairem dos problemas de natureza profissional, recorda-me sempre algo que ouvi já há alguns anos a um Professor velho que quando comentei que a situação de reforma lhe dava descanso, se riu e disse que “professores e pais nunca se reformam ou vão de férias”.
Embora com uma pontinha de excesso que se desculpa, a dimensão ética e afectiva das funções, para além das questões profissionais no caso dos professores, é tão significativa que dificilmente se consegue “escapar” ainda que transitoriamente, e muito menos definitivamente, à condição de pai ou de professor.
É bom de ver que este quadro está naturalmente mais presente nos bons professores, a esmagadora maioria. Os bons professores, tal como os pais, têm sempre os alunos, os filhos, “perto” de si, ou seja, não lhes é fácil libertarem-se da inquietação que sentem com o bem-estar dos miúdos e com a qualidade do trabalho.
Em situações informais em que algum ou alguns professores estejam presentes é muito frequente que a conversa, mais ou menos rapidamente, se direccione para as questões da vida dos miúdos e da escola.
Não raramente, este envolvimento de muitos professores, horas extraordinárias por assim dizer, tem implicações na sua vida pessoal e familiar que muitos entendem ser “ossos do ofício” e ajudam a explicar os resultados do estudo que referi.
O Professor velho tem mesmo razão, os professores e os pais não se reformam nem vão de férias, estão sempre a tempo inteiro.
Muita desta gente que agora está a sair da escola, muitos dos quais a contragosto, na verdade não vai mesmo reformar-se da sua condição de professores, serão sempre professores, obrigado por isso.

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