quinta-feira, 19 de novembro de 2015

A METADE DO CÉU

Foram hoje divulgados alguns dados de um projecto no âmbito da igualdade de género da responsabilidade do Instituto de Ciências Sociais da Universidade Lisboa e da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego.
Com base no International Social Survey Programme e considerando 2014, as mulheres ocupam 21 horas por semana em “tarefas domésticas”, como passar a ferro ou fazer refeições, enquanto os homens ocupam 8 horas nas mesmas actividades. Acresce o tempo usado no que é designado como “cuidados a familiares” em que se nclui cuidar dos filhos, a mulheres 17 horas por semana e os homens 9.
Apesar de se manter esta assimetria deve registar-se algum progresso no sentido do maior equilíbrio e cooperação sobretudo nos casais mais novos o que pode sugerir uma mudança consistente.
Estes dados vão no mesmo sentido de trabalhos como da OCDE “Closing the Gender Gap: Act Now, sendo que nesse estudo as mulheres portuguesas eram as quartas mais “trabalhadeiras” em termos comparativos.
Por outro lado, um outro trabalho internacional de que não localizo a referência revelava que as mulheres portuguesas são das que mais tempo trabalham fora de casa. Existem também indicadores sustentando que as mulheres portuguesas são de entre as europeias as que mais valorizam a carreira profissional e a família, a maternidade.
Este conjunto de indicadores ilustram as dinâmicas familiares actuais e ajudam, também a entender as dificuldades e inibição que muitas famílias sentem em integrar filhos nos seus projectos de vida e o consequente envelhecimento e ausência de renovação geracional.
É evidente que as questões não são exclusivamente de natureza económica, os valores e a condição da mulher nas diferentes comunidades desempenham um papel crucial e interagem com as questões económicas. Os salários são genericamente baixos e baixos e não podemos esquecer a discriminação salarial de que muitas mulheres, sobretudo em áreas de menor qualificação, são ainda alvo e a forma como a legislação laboral e a sua “flexibilização” as deixam mais desprotegidas. São conhecidas muitas histórias sobre casos de entrevistas de selecção em que se inquirirem as mulheres sobre a intenção de ter filhos, sobre casos de implicações laborais negativas por gravidez e maternidade, sobre situações em que as mulheres são pressionadas para não usarem a licença de maternidade até ao limite, etc. Pode também referir-se que apesar das alterações legislativas o uso partilhado da licença por nascimento de filhos ainda é significativamente baixo.
Na verdade e apesar de algumas alterações que se vão sentindo, a metade do céu, que as mulheres representam, carrega um fardo pesado.

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