sábado, 21 de novembro de 2015

A SINISTRA PACC FINOU-SE

Ao que a imprensa refere, já deu entrada a iniciativa legislativa que com o apoio da maioria parlamentar dará fim à sinistra PACC, Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades, para ingresso na carreira de Professor. Parece, pois, que a sinistra morreu de morte matada, como diz João Cabral de Melo Neto.
Algumas notas velhas.
Uma primeira nota para sublinhar que o seu desaparecimento faz esquecer o que nesta matéria se passou.
Na verdade, o saldo deste processo que se iniciou, é bom lembrar com a institucionalização desta Prova em 2007 pelo PS, que agora votará pela sua extinção, e que Nuno Crato recuperou da maneira aberrante e a que temos vindo a assistir com um primeiro episódio em 18 de Dezembro de 2013, é profundamente negativo e uma das páginas mais negras da educação em Portugal e uma enorme humilhação e desrespeito à classe docente, a todos os Professores, avaliados e avaliadores ou vigilantes.
Em termos breves e em jeito de balanço, estabelecer uma Prova de acesso à carreira docente que não envolva avaliação das práticas durante algum tempo como se verifica em muitos países é, podemos afirmar assim, uma decisão política, não ignorância ou incompetência científica. Nenhuma prova curta e que não envolva prática educativa em sala de aula pode avaliar a preparação de um professor para leccionar. Nuno Crato sabia disso, como é evidente.
Mas Nuno Crato foi mais longe, recuperou a Prova definida em 2007 e institui um modelo com uma componente comum, com itens de resposta múltipla e que mais não são do que charadas lógicas sem qualquer relação com o exercício da profissão professor e uma "resposta extensa orientada" com um número de palavras entre 250 e 350 a que acresce uma Componente específica sobre a disciplina que o docente se propõe leccionar que aliás nem se realizou nas edições anteriores.
A esta aberração sujeitar-se iam todos os professores que não estão nos quadros. Acontece que muitos destes professores são-no há vários anos, com prática avaliada e a reacção foi imediata. Com a colaboração prestimosa da FNE, o MEC assumiu a generosidade de decidir que a Prova só seria realizada pelos professores com menos de 5 anos. Acrescenta-se, assim, incompetência e manha pois que diferença de "Conhecimentos e Capacidades" existirá entre professores com mais ou menos uns dias de experiência.
Marcou-se a data para Sinistra Prova e o alarido e confusão foram grandes pelo que muitos docentes não a realizaram. O MEC insiste, elimina a componente específica como se passasse a confiar no que antes desconfiava, o conhecimento científico dos professores sobre o se propõem ensinar, e num processo absolutamente indigno e deplorável em ética e transparência, cheio de habilidades certamente "normais", marcou nova Prova.
Não é possível que alguém conhecedor deste processo e dos seus conteúdos, designadamente do modelo de Prova, possa aceitar tal ofensa e humilhação. Não é acertando na resolução de problemas de lógica que se evidencia qualidade e preparação para se ser professor. Esta Prova não tem rigorosamente a ver com a avaliação de desempenho dos professores, confusão que transparece em inúmeros comentários que se ouviram e leram. Tal confusão, creio, será, também, da responsabilidade também dos professores e seus representantes. Ao MEC interessa uma opinião pública mal informada, mal “formada” e "contra" os professores como sucessivas equipas da 5 de Outubro têm alimentado.
De facto, para terminar, o saldo de tudo isto é algo de muito negro para a educação em Portugal, pelo modelo de avaliação, pelo processo, pelo modelo e conteúdos da Prova e, sobretudo, pela humilhação e desrespeito aos professores e pela sua profissão, cujos saberes e competência não cabem em 32 itens e uma resposta "extensa orientada" até 350 palavras.
O Ministro Nuno Crato e os e os seus ajudantes sabiam, evidentemente que isto assim é. No entanto, a afirmação infantil de autoritarismo em nome de uma autoridade que não têm e que lhes não é reconhecida, um fingimento de rigor que a incompetência episódios sucessivos negaram mas, sobretudo, a tentativa desesperada de continuar a voltar a opinião pública contra os professores levou Nuno Crato a insistir despudoradamente na realização desta sinistra PACC.
A história não os absolverá. Morra a sinistra PACC, Morra! PIM!
A ver vamos.

PS - Resta ainda perceber como será gerida a situação de muitos professores que ou não fizeram e foram preteridos ou fizeram e reprovaram sendo igualmente impedidos de leccionar.

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