"Ministra das Finanças relativiza emigração jovem: "Se quiserem fazer opções lá fora devem fazê-lo""
A Ministra das Finanças mostrou ontem mais um
exemplo de palavras (mal)ditas. Afirmou que devemos relativizar o
fenómeno da emigração jovem, "Se quiserem fazer opções lá fora devem
fazê-lo", acrescentou.
Não é nada disto, a maioria dos jovens que parte,
conforme os estudos apontam, não o faz porque quer “fazer opções lá fora”,
partem porque não têm opções cá dentro e este êxodo não pode ser “relativizado”
ou desvalorizado, é um drama para o país e um drama para muitas famílias.
Na verdade, a emigração parece estar a
constituir-se como via quase exclusiva para aceder a um futuro onde caiba um
projecto de vida positivo e viável, algo que por cá não é fácil de definir. Aliás,
vários outros inquéritos a estudantes universitários mostram como muitos
admitem emigrar em busca de melhores condições de realização pessoal e
profissional apesar de muitos afirmarem que pretendem voltar.
Somos um país de emigrantes de há séculos pelo que
este movimento de partida, só por si, não será de estranhar. No entanto, creio
que é preocupante constatarmos que durante muitos anos a emigração se realizava
na busca de melhores condições de vida, a agora a emigração realiza-se à
procura da própria vida, muita gente, sobretudo jovens não tem condições de
vida, tem nada e parte à procura, não de melhor, mas de qualquer coisa. Este
vazio que aqui se sente é angustiante, sobretudo para quem está começar, se
sente qualifica e com o desejo de construção de um projecto de vida
viável e bem sucedido.
Por outro lado e como é reconhecido, de uma forma
geral, o ensino superior e a investigação em Portugal têm uma qualidade que
internamente nem sempre é reconhecida e que se evidencia na frequência com que
em diversas áreas se assiste à contratação de jovens que estudaram em Portugal
para trabalho em empresas ou em investigação em diferentes países, onde se
incluem, por exemplo, a Inglaterra, a Alemanha ou os Estados Unidos que não são
propriamente países com baixo nível de desenvolvimento científico.
Neste quadro, torna-se ainda mais preocupante a
partida para o estrangeiro de muitos milhares de jovens, com formação superior
de elevada qualidade, porque em Portugal um projecto de vida viável e com
sucesso é uma miragem. Este êxodo tem, obviamente, com profundas consequências
para um país como Portugal.
Em primeiro lugar, porque sendo um país com uma
fortíssima necessidade de qualificação nas empresas, vê partir os que mais
preparados estariam o que terá, evidentemente, um impacto económico
significativo. Aliás e curiosamente, este entendimento é recorrentemente
afirmado por um Governo com forte responsabilidade pela emigração forçada de
milhares de jovens com formação superior, designadamente trabalhadores na área
científica, que não vislumbram o futuro em Portugal.
Em segundo lugar, porque importa não esquecer que
os custos da formação dos jovens qualificados em Portugal são suportados por
todos os nós no caso do ensino público e das famílias ou dos próprios na
formação em estabelecimentos privados embora, considerando também o ensino
público, os custos para as famílias na frequência de ensino superior em
Portugal seja dos mais altos na Europa. Isto significa que Portugal, o estado e
as famílias, suporta os custos da formação e os outros países aproveitam essa
qualificação uma vez que os jovens não conseguem desenvolver o seu trabalho
em Portugal.
E o futuro? O futuro não mora aqui.
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