Realizou-se hoje uma cerimónia integrada na liturgia política assinalando o fim das negociações que conduzirão ao projecto-piloto envolvendo 13 autarquias na promoção da chamada “municipalização” da educação. A cerimónia foi abrilhantada
com a presença de dois génios, o Ministro Nuno Crato e o Ministro Poiares
Maduro.
Mais
uma vez ouvimos a retórica da “descentralização” e do “reforço da autonomia das
escolas”.
De
novo algumas notas. Em primeiro lugar expressar alguma reserva face ao entendimento
que o MEC tem de “projectos-piloto”. Se consideramos, por exemplo a
generalização dos cursos vocacionais sem que as “experiências piloto” fossem
avaliadas creio que este caminho, a municipalização nestes moldes, está traçado
e corresponde, evidentemente, à visão do Ministro.
Mais
uma vez e enquanto for possível, insisto na necessidade de se considerarem com
atenção os resultados de experiências de "municipalização" realizadas
noutros países nos termos em que Nuno Crato se vai referindo a este movimento,
e cujos resultados estão longe de ser convincentes. A Suécia, por exemplo, está
assistir-se justamente a um movimento de "recentralização"
considerando os resultados, maus, obtidos com a experiência de municipalização.
Por
outro lado, o que se vai passando no sistema educativo português no que
respeita ao envolvimento das autarquias nas escolas e agrupamentos,
designadamente em matérias como as direcções escolares, os Conselhos gerais ou
a colocação de funcionários e docentes (nas AECs, por exemplo) dá para ilustrar
variadíssimos exemplos de caciquismo, tentativas de controlo político,
amiguismo face a interesses locais, etc. O controlo das escolas é uma enorme
tentação. Podemos ainda recordar as práticas de muitas autarquias na
contratação de pessoal, valorizando as fidelidades ajustadas e a gestão dos
interesses do poder.
Assim
sendo, talvez seja mesmo recomendável alguma prudência embora, confesse, não
acredite pois não se trata de imprudência, trata-se de uma visão, de uma
agenda.
Ainda
nesta matéria e dados os recursos económicos disponíveis, poderemos correr o
risco de se aumentar o "outsourcing" e a promoção de PPPs que já
existem nas escolas, muitas vezes com resultados pouco positivos, caso de
apoios educativos e do recurso a empresas de prestação de serviços, (de novo o
exemplo das AECs).
Finalmente,
uma referência ao equívoco habitual entre autonomia das escolas e
municipalização. De acordo com o modelo proposto e conforme alguns directores
têm referido a autonomia da escola não sai reforçada, antes pelo contrário,
passa para as autarquias. O imprescindível reforço da autonomia das escolas e
agrupamentos não depende da municipalização como muitas vezes se pretende fazer
crer.
Confundir
autonomia das escolas com municipalização é criar um equívoco perigoso e frequentemente
não passa de uma cortina de fumo para mascarar os caminhos dos negócios da
educação.
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