Trata-se de uma pergunta sem
respostas definitivas pois envolve inúmeras variáveis. Aliás, por coincidência, colaborei há tempos numa peça do DN também sobre esta temática.
Embora, como disse, a questão
colocada não tenha resposta, depende, por exemplo, do contexto social e
geográfico ou da maturidade da própria criança, tem subjacente uma outra
matéria de natureza mais vasta e importante, a autonomia das crianças e a
forma como a promovemos ... ou não.
De há muito e sempre que penso ou
falo de educação me lembro de um texto de Almada Negreiros em que se afirma
"... queria que me ajudassem para que fosse eu o dono de mim, para que os
que me vissem dissessem: Que bem que aquele soube cuidar de si". Este
enunciado ilustra, do meu ponto de vista, a essência da educação, seja familiar
ou escolar, em qualquer idade.
De facto, o que se pretende num processo
educativo será a construção de gente que sabe tomar conta de si própria da
forma adequada à idade e à função que em cada momento se desempenha. Este
entendimento traduz-se num esforço contínuo de promover a autonomia das
crianças e jovens para que "saibam tomar conta de si próprios", no
fundo, a velha ideia de, "ensinar a pescar, em vez de dar o peixe".
Parece-me fundamental que
adoptemos comportamentos que favoreçam esta autonomia dos miúdos e dos jovens.
No entanto, é minha convicção que por razões que se prendem com os estilos de
vida, com os valores culturais e sociais actuais, com as alterações das
sociedades, questões de segurança. por exemplo, estamos a educar os nossos
miúdos de uma forma que não me parece, em termos genéricos, promotora da sua
autonomia. A rua, a abertura, o espaço, o risco (controlado obviamente), os
desafios, os limites, as experiências, são ferramentas fortíssimas de
desenvolvimento e promoção dessa autonomia. É neste contexto que deve ser
colocada e decidida a deslocação autónoma das crianças para a escola.
Por outro lado, os miúdos são
permanentemente bombardeados com saberes e actividades que serão obviamente
importantes para o seu desenvolvimento e para o seu futuro mas, ao mesmo tempo,
são miúdos, pouco autónomos, pouco envolvidos nas decisões que lhes dizem
respeito cumprindo agendas que lhes não dão margem de decisão sobre o quê e o
porquê do que fazemos ou não fazemos. Acabam por se tornar menos
capazes de decidir sobre o que lhes diz respeito, dependem da
"decisão de quem está à sua volta, companheiros ou adultos.
Um exemplo, para clarificar. Um
adolescente não habituado a tomar decisões, a fazer escolhas, mais dificilmente
dirá não a uma oferta de um qualquer produto ou um a convite de um colega para
um comportamento menos desejável. É mais difícil dizer não do que dizer sim aos
companheiros da mesma idade. Num sala de aula é bem mais provável que um
adolescente tenha um comportamento adequado porque "decida" que é
assim que deve ser, do que por "medo" das consequências.
Só miúdos autónomos,
auto-determinados, serão mais capazes de dizer não ao que se espera
que digam não e escolher de forma ajustada o que fazer ou pensar, o que
sublinha a importância de em todo processo de educação, logo de muito pequeno,
em casa e na escola, se estimular a autonomia dos miúdos.
Creio que este entendimento está
pouco presente em muito do que fazemos em matéria de educação familiar ou
escolar e para todos os miúdos.
Todos beneficiariam, miúdos e
adultos.
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