Não vou referir-me aos casos abordados
na peça, passam-se noutras paragens, mas algumas notas sobre o nosso universo.
Vale a pena analisar os dados do
último estudo A
Saúde dos Adolescentes Portugueses, o de 2014, que integra o
estudo internacional Health Behaviour in School-aged Children, da
responsabilidade da OMS, realizado de quatro em quatro anos e coordenado em
Portugal pela excelente equipa da Professora Margarida Gaspar de Matos e de
leitura obrigatória para compreensão do universo dos adolescentes e jovens
portugueses.
Segundo o estudo, um em cada cinco
alunos entre o 8º e o 10º ano já se magoou a si próprio, de propósito, nos
últimos 12 meses, sobretudo cortando-se nos braços, nas pernas, na barriga...
Referiram que se sentiam “tristes”, “fartos”, “desiludidos” quando o fizeram.
Este indicador, preocupante como
é evidente, é-o tanto mais quando representa um aumento de quase cinco pontos
percentuais do grupo dos que fazem mal a si próprios considerando o Relatório
de há quatro anos.
É importante sublinhar que foram
envolvidos no estudo 6026 alunos do 6.º, 8.º e 10.º anos, de Portugal
continental, com idades entre os 10 e os 20 anos (a média de idades é 14 anos).
Na verdade, os comportamentos de
automutilação em adolescentes são mais frequentes e graves do que muitas vezes pensamos.
Alguns estudos internacionais apontam para cerca de 10% da população em idade
escolar com este tipo de comportamento pelo que os dados encontrados em
Portugal são, de facto, preocupantes.
Este quadro é um indicador do
mal-estar que muitos adolescentes e jovens sentem. Em muitas situações não
conseguimos estar suficientemente atentos. Acontecem com alguma frequência
situações de sofrimento com as mais diversas origens, relações entre colegas,
bullying por exemplo nas suas diferentes formas, ou relações degradadas
em família que facilitam a instalação de sentimentos de rejeição, ausência de
suporte social, facilitadoras de comportamentos autodestrutivos. Começa também
a emergir como causa deste mal estar a dificuldade que algumas crianças e adolescentes
sentem em lidar com situações de insucesso escolar. Estas dificuldades são
frequentemente potenciadas pela pressão das famílias e pelo nível de competição
que por vezes se instala.
O sofrimento e mal-estar induzem uma espiral de comportamentos em que os adolescentes causam a si próprios
sofrimento que promove mais sofrimento num ciclo insuportável e com níveis de
perplexidade, impotência e sofrimento para as famílias também
extraordinariamente significativos.
Depois das ocorrências torna-se
sempre mais fácil dizer qualquer coisa mas é necessário. Muitas crianças e
adolescentes evidenciam no seu dia-a-dia sinais de mal-estar a que, por vezes, não damos atenção, seja em casa, ou na escola espaço onde passam boa pare do
seu tempo boa parte do seu tempo, De facto em muitos casos, designadamente, em
comportamentos de automutilação, pode ser possível perceber sinais e
comportamentos indiciadores de mal-estar. Estes sinais não podem, não devem, ser ignorados ou desvalorizados. É
também importante que pais e professores atentos não hesitem nos pedidos de
ajuda ou apoio para lidar com este tipo de situações.
Muitos pais, diz-me a
experiência, sentem-se de tal forma assustados que inibem um pedido de ajuda
por se sentirem impotentes e perplexos.
O resultado pode ser trágico e obriga-nos a nós a uma atenção redobrada aos discursos e comportamentos dos adolescentes.
O resultado pode ser trágico e obriga-nos a nós a uma atenção redobrada aos discursos e comportamentos dos adolescentes.
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