"Origem do narcisismo aponta para excesso de elogios dos pais"
A imprensa de hoje divulga um
estudo de origem americana que sugere que um excesso de elogios dirigido aos
filhos pode estar associado à emergência de traços "narcísicos", ao desenvolvimento de personalidades autocentradas,
manipuladoras, etc.
Assim sendo, o elogio não deve
ser excessivo pois, "na dose certa" é positivo, sendo em excesso fará
mal.
Este tipo de estudos, de que não
conheço com profundidade os contornos e metodologias, deve ser recebido com
alguma prudência embora pareça dizer algo que não nos merecerá grande reserva,
as crianças devem ser tratadas sem excessos.
No entanto e a este propósito,
também acontece que quando se assiste ou se comentam alguns comportamentos dos
miúdos, sobretudo quando se trata de birras ou a imposição de desejos ou
vontades aos adultos, quase sempre os pais, que com maior ou menor
constrangimento acabam por satisfazer, surge com muita frequência a explicação
“é dos mimos” ou outra da mesma natureza, é dos "elogios". Neste tipo
de diálogos, “mimos” é entendido quase como sinónimo de “afecto”, “amor”,
“gostar”, etc.
Tal justificação costuma depois
servir para se afirmar a ideia de que as crianças hoje em dia têm muitos mimos
que as estragam, dito de outra maneira, têm “afecto” a mais ou ainda “gosta-se
de mais” das crianças. Na versão do hoje estudo hoje referenciado, os "mimos" podem ser substituídos
por "elogios".
Acho sempre muito curiosos estes
discursos pois assentam, do meu ponto de vista, num enorme equívoco.
As crianças, de uma forma geral,
não terão afecto ou elogios a mais, pode existir “afecto a mais” "elogio
excessivo" mas se for excessivo é mau afecto é mau elogio. Não é mau por
ser muito, é mau porque asfixia, oprime, não deixa que os miúdos cresçam, distorce a percepção da criança de si própria. Mas
não é este o tipo de situações que leva as pessoas a falar dos mimos ou dos
elogios a mais.
Insisto, as crianças não têm elogios
ou mimos a mais, têm nãos de menos, os adultos sendo quase sempre capazes de
dar os mimos e os elogios, muitas vezes mostram-se incapazes de dar os nãos, de
estabelecer os limites e as regras que, como sempre digo, são tão necessárias
às crianças como respirar e alimentar-se. Esta dificuldade dos adultos em
oferecer os nãos aos miúdos, decorre muitas vezes de alguma desconforto
culpabilizante sentido com as circunstâncias e estilos de vida que inibem o
tempo e a disponibilidade que desejariam ter para os filhos. Ficando sem nãos,
muitas crianças, a coberto do afecto ou dos elogios dos pais, transformam-se em
pequenos ditadores que infernizam a vida de toda a gente, a começar por si
próprios.
Mas não têm mimos, afecto, elogios
a mais. Têm, repito, nãos a menos.
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