A OCDE divulgou um estudo em que se analisam com base
nos dados da última edição do PISA os resultados escolares de rapazes e
raparigas associando-os a algumas “características” identificadas. Em síntese,
os rapazes apresentam menos sucesso escolar, são menos disciplinados, menos
motivados para a escola, gastam menos tempo em trabalhos de casa e leitura. As
raparigas são mais ansiosas e menos confiantes e têm mais sucesso mas mais
probabilidades de experimentar dificuldades nas áreas científicas. A OCDE
entende que estas diferenças não se devem a características inatas pois rapazes
e raparigas dos países com melhores resultados no PISA não expressam diferenças
significativas nos resultados escolares.
Estes dados não sugerem nada de novo mas sustentam
algumas notas.
Há algum tempo o Júri Nacional de Exames divulgou o
relatório sobre os exames de 2014. Nesse relatório e em sintonia com o estudo
da OCDE agora conhecido também se referia a existência de maior abandono
escolar e insucesso por parte dos rapazes que das raparigas. Nos exames de 9º
ano as raparigas estão a maioria, enquanto nos exames de 4º e 6º predominam os
rapazes. A demografia não explica esta alteração uma vez que têm nascido mais
rapazes.
Para o JNE, este quadro podia ser “eventualmente
explicado por um maior abandono escolar precoce do ensino básico geral por
parte dos alunos do género masculino, nomeadamente por terem acedido a outras
vias formativas de carácter mais profissionalizante”. Deve, no entanto dizer-se
que estes percursos têm uma oferta ainda muito pouco significativa que
dificilmente explicam a alteração.
Esta situação é recorrente, aliás, vai-se
prolongando para o ensino secundário e superior e não me parece suficiente a
"explicação" pelo maior abandono escolar precoce por parte dos
rapazes. Aliás, no estudo da OCDE, Portugal é referido positivamente por ser um
dos países em que mais subiu a percentagem de raparigas com formação superior nas
áreas científicas. A questão central é porque se verifica este quadro de
resultados.
Do meu ponto de vista e conforme os estudos e a
experiencia sugerem, os estilos educativos parentais no que respeita ao género,
os modelos culturais e valores, as expectativas criadas sobre a escola, sobre
os comportamentos, etc., são variáveis a ter em conta. Este cenário também
ajuda a perceber a razão dos episódios de indisciplina escolar serem mais
frequentes envolvendo rapazes.
Por outro lado, a introdução precoce, demasiado
precoce, de vias "mais profissionalizantes" não me parece a melhor
hipótese como tem sido sublinhado em sucessivos relatórios internacionais e
estudos. Os alunos mais novos, estou a pensar sobretudo até ao 9º ano, que
experimentam dificuldades escolares e maior desmotivação, precisam de apoio
escolar e não de vias profissionais.
Esta é que me parece a questão central. No entanto,
as mudanças nas escolas e a excessiva concentração e centralização, a
insuficiência dos dispositivos de apoio ao trabalho de alunos e professores
tornam extraordinariamente difícil o combate ao insucesso e abandono precoces,
no ensino básico.
As questões de género fazem parte de um outro
universo a trabalhar com as famílias e em espaços lectivos que não existem pois
não fazem parte, evidentemente, das "matérias essenciais" definidas
por Nuno Crato, pelo que assim iremos certamente continuar. Os rapazes, genericamente,
portam-se pior e estudam menos e as raparigas portam-se melhor e estudam mais.
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