quinta-feira, 5 de março de 2015

OS RESULTADOS ESCOLARES DE RAPAZES E RAPARIGAS

A OCDE divulgou um estudo em que se analisam com base nos dados da última edição do PISA os resultados escolares de rapazes e raparigas associando-os a algumas “características” identificadas. Em síntese, os rapazes apresentam menos sucesso escolar, são menos disciplinados, menos motivados para a escola, gastam menos tempo em trabalhos de casa e leitura. As raparigas são mais ansiosas e menos confiantes e têm mais sucesso mas mais probabilidades de experimentar dificuldades nas áreas científicas. A OCDE entende que estas diferenças não se devem a características inatas pois rapazes e raparigas dos países com melhores resultados no PISA não expressam diferenças significativas nos resultados escolares.
Estes dados não sugerem nada de novo mas sustentam algumas notas.
Há algum tempo o Júri Nacional de Exames divulgou o relatório sobre os exames de 2014. Nesse relatório e em sintonia com o estudo da OCDE agora conhecido também se referia a existência de maior abandono escolar e insucesso por parte dos rapazes que das raparigas. Nos exames de 9º ano as raparigas estão a maioria, enquanto nos exames de 4º e 6º predominam os rapazes. A demografia não explica esta alteração uma vez que têm nascido mais rapazes.
Para o JNE, este quadro podia ser “eventualmente explicado por um maior abandono escolar precoce do ensino básico geral por parte dos alunos do género masculino, nomeadamente por terem acedido a outras vias formativas de carácter mais profissionalizante”. Deve, no entanto dizer-se que estes percursos têm uma oferta ainda muito pouco significativa que dificilmente explicam a alteração.
Esta situação é recorrente, aliás, vai-se prolongando para o ensino secundário e superior e não me parece suficiente a "explicação" pelo maior abandono escolar precoce por parte dos rapazes. Aliás, no estudo da OCDE, Portugal é referido positivamente por ser um dos países em que mais subiu a percentagem de raparigas com formação superior nas áreas científicas. A questão central é porque se verifica este quadro de resultados.
Do meu ponto de vista e conforme os estudos e a experiencia sugerem, os estilos educativos parentais no que respeita ao género, os modelos culturais e valores, as expectativas criadas sobre a escola, sobre os comportamentos, etc., são variáveis a ter em conta. Este cenário também ajuda a perceber a razão dos episódios de indisciplina escolar serem mais frequentes envolvendo rapazes.
Por outro lado, a introdução precoce, demasiado precoce, de vias "mais profissionalizantes" não me parece a melhor hipótese como tem sido sublinhado em sucessivos relatórios internacionais e estudos. Os alunos mais novos, estou a pensar sobretudo até ao 9º ano, que experimentam dificuldades escolares e maior desmotivação, precisam de apoio escolar e não de vias profissionais.
Esta é que me parece a questão central. No entanto, as mudanças nas escolas e a excessiva concentração e centralização, a insuficiência dos dispositivos de apoio ao trabalho de alunos e professores tornam extraordinariamente difícil o combate ao insucesso e abandono precoces, no ensino básico.
As questões de género fazem parte de um outro universo a trabalhar com as famílias e em espaços lectivos que não existem pois não fazem parte, evidentemente, das "matérias essenciais" definidas por Nuno Crato, pelo que assim iremos certamente continuar. Os rapazes, genericamente, portam-se pior e estudam menos e as raparigas portam-se melhor e estudam mais.

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