No universo complexo e fascinante
da vida e da educação dos mais novos gostava de partilhar algo que de há uns
tempos para cá tem vindo a verificar-se e que me deixa com alguma inquietação,
o número muito significativo de crianças e adolescentes que têm "ganho"
uma espécie de prefixo na sua condição, o "dis".
Reparemos na diversidade de
situações. Ao correr da lembrança e sem esgotar as possibilidades, temos os
meninos que são disléxicos com uma tipologia bem variada, disgráficos,
discalcúlicos, disortográficos ou até distraídos, só para citar alguns exemplos.
Temos também as crianças e
adolescentes que têm (dis)túrbios. Estes (dis)túrbios também são das mais
diferenciadas naturezas, distúrbios do comportamento, distúrbios da atenção e
concentração, distúrbios da memória, distúrbios da cognição, distúrbios
emocionais, distúrbios da personalidade, distúrbios da actividade, distúrbios
da comunicação, distúrbios da audição e da visão, distúrbios da aprendizagem ou
distúrbios alimentares.
O caso particular das crianças
consideradas "hiperactivas" e ou "com défice de atenção" é
um exemplo do que se pode designar como "sobrediagnóstico" e que,
frequentemente, implica o recurso a medicação, situação com evidentes riscos
para os quais alguns especialistas mais prudentes e atentos, como o Professores
Mário Cordeiro ou Gomes Pedro, têm alertado. Acontece, por outro lado, que
algumas crianças que exprimem de facto dificuldades são também mal avaliadas e,
portanto, não acedem a uma intervenção que seria necessária.
Como é evidente existem ainda os
que só fazem (dis)parates e aqueles cujo ambiente de vida é completamente
(dis)funcional.
Pois é, há sempre um
"dis" à espera de qualquer criança e se não, inventa-se, "ela
tem que ter qualquer coisa".
Agora um pouco mais a sério,
sabemos todos que existe um conjunto de problemas que pode afectar crianças e
adolescentes mas, felizmente, não serão tantas as situações como por vezes parece e a quantidade de
referências e casos "diagnosticados" sugerem.
Inquieta-me muito a facilidade
com que frequentemente são produzidos "diagnósticos" e rótulos que se
colam aos miúdos, dos quais eles dificilmente se libertarão. Temo que a
banalização da sua utilização possa contribuir para instalar, sem nos darmos,
conta uma perigosa indiferença sobre o que observa nos miúdos.
É ainda preocupante a ligeireza com
que muitos miúdos aparecem medicados, chamo-lhes "ritalinizados", sem
que os respectivas avaliações ou diagnósticos pareçam suportar seguramente o
recurso à medicação.
Esta matéria, avaliar e explicar
o que passa com os miúdos e adolescentes, exige um elevadíssimo padrão ético e
deontológico além da óbvia competência técnica e científica. Só assim poderemos
ajudar, de facto, as crianças e adolescentes que na verdade, podem apresentar
quadros específicos de dificuldades.
Não se pode aligeirar, é
"dis"masiado grave.
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