Luís Capela, inspector-geral de
Educação e Ciência, divulgou hoje em Coimbra que em breve será aprovado um
diploma relativo à avaliação externa das escolas que, entre outras aspectos,
contemplará a observação de aulas e estender-se-á aos estabelecimentos do
ensino particular e cooperativo.
A observação de aulas é um
aspecto importante, habitualmente envolto em polémica designadamente no âmbito
da avaliação dos professores. No entanto, no quadro da avaliação das escolas
Portugal era de acordo com um recente relatório da rede Eurydice, "Assuring
Quality in Education — Policies and Approaches to School Evaluation in
Europe" um dos três países em que não existe.
É de registar que o MEC promove uma
sinistra PACC para avaliar Conhecimentos e Capacidades para o acesso à carreira de
professor sem considerar como elemento avaliativo o trabalho em sala de aula mas
entende que para avaliar uma escola tal é necessário. Cratinices, enfim.
Por outro lado, regista-se a
intenção de que o ensino privado seja sujeito aos dispositivos de avaliação
externa.
Não conhecemos, evidentemente, os
conteúdos do futuro diploma mas aguarda-se o que em matéria de autonomia das
escolas tal possa ser contemplado. A autonomia das escolas está sob ameaça no
movimento de municipalização da educação não passa de "uma espécie de
autonomia".
A avaliação é, seguramente, uma
ferramenta de promoção e regulação da qualidade do trabalho desenvolvido o que
a torna imprescindível nos vários patamares do sistema. Em Portugal, no
universo da educação, a avaliação, seja de alunos, de professores ou das
escolas tem sido um terreno de enorme instabilidade e conflitualidade,
seja pela incoerência e incompetência de diferentes iniciativas do MEC, seja
pela contaminação da normal conflitualidade destas matérias pelos interesses
conjunturais da partidocracia, traduzidos numa volatilidade espantosa de
mudanças e alterações que nem tempo têm se ser avaliadas antes de ser novamente
... alteradas e sempre recebidas reactivamente.
Gostava também que o novo quadro
normativo pudesse desburocratizar a forma como a avaliação interna e externa é
realizada, altamente burocratizada, solicitando uma carga enorme de informação,
extensa, redundante e parte dela inútil, da forma que é requerida. A produção
desta informação consome centenas de horas de trabalho a muitos docentes
roubadas à essência do seu trabalho.
O nível de informação solicitada
e as regras impostas de funcionamento e organização mostra, de facto, um
sistema altamente centralizado, burocratizado e com a tentação de manter um
controlo absoluto sobre a organização e funcionamento das escolas.
A minha experiência em processos
desta natureza, como membro de Conselhos Gerais, incluindo escolas com contrato
de autonomia, é elucidativa.
No último caso, o volume de
informação produzido por exigência do quadro normativo global e do contrato de
autonomia ocupava um espaço virtual de 4 MB para ser analisado na reunião do
Conselho Geral. É obra e o problema é que tinha pouco de virtual e ...
eficiente.
O desgaste e desperdício de tempo
e esforço investidos na produção desta informação que, sendo lida algures no
MEC também implicará mais uma enorme carga de trabalho mas que alimenta a
máquina, não podem deixar de ter custos significativos na qualidade do trabalho
das escolas.
A avaliação, sendo imprescindível
na promoção da qualidade é tanto mais eficaz nessa função quanto mais
competente e simples possa ser.
A questão é que, como dizia o
Mestre João dos Santos, o mais difícil em educação é trabalhar de uma forma
simples.
Sem comentários:
Enviar um comentário