Recordando Camões, o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades, umas mais simpáticas que outras, deve
dizer-se.
Dados do Observatório Europeu da Droga e daToxicodependência em 2014 foram identificadas 101 novas drogas que se caracterizam
por ser potentes, pouco estudadas e de venda fácil. Este número significa um
aumento de 25% relativamente a 2013.
Acresce ainda as mudanças verificadas na produção
das drogas já em utilização tornando-as mais potentes e, consequentemente, mais
perigosas.
Muitas destes novos produtos entram em circulação
legal em diferentes países no mercado das smartshops que no ano passado foi
objecto de regulação bastante mais restritiva em Portugal, embora a venda
destas chamadas "drogas legais", muitas entretanto ilegalizadas, tenham
deslizado para o mercado clandestino.
Por outro lado, é ainda de salientar a tendência
crescente, como os últimos Relatórios do Observatório têm reconhecido de utilização
da net e das redes sociais como suporte à venda de drogas. Nada de
surpreendente, poderíamos mesmo dizer, sinais dos tempos. Se as redes sociais
podem assumir papéis significativos em movimentos sociais e políticos, porque
não no tráfico de droga, uma das mais lucrativas actividades dos nossos dias.
Este cenário, não só pelas suas consequências, mas
pela “facilidade” de funcionamento e da dificuldade do combate, necessita de
uma política séria de prevenção e tratamento para além do combate ao tráfico
que possa, tanto quanto possível, contar com os recursos adequados, mesmo em
cenários de contenção como os actuais.
A questão preocupante e que tem sido motivo regular
de alerta por parte de especialistas, é que os cortes e ajustamentos nos
recursos humanos e materiais disponíveis correm o risco de criar sérios
constrangimentos na prevenção, tratamento do consumo e do combate ao tráfico.
Como muitas vezes tenho escrito, existem áreas de
problemas que afectam as comunidades em que os custos da intervenção são
claramente sustentados pelas consequências da não intervenção, ou seja, não
intervir ou intervir mal é sempre bastante mais caro que a intervenção correcta
em tempo oportuno. A toxicodependência e o consumo do álcool são exemplos
dessas áreas.
Quadros de dependência não tratados desenvolvem-se
habitualmente, embora possam verificar-se excepções, numa espiral de consumo
que exigem cada vez mais meios e promove mais dependência. Este trajecto
potencia comportamentos de delinquência, alimenta o tráfico, reflecte-se nas
estruturas familiares e de vizinhança, inibe desempenho profissional, promove
exclusão e “guetização”. Este cenário implica por sua vez custos sociais
altíssimos, persistentes e difíceis de contabilizar.
Costumo dizer em muitas ocasiões que se cuidar é
caro, façam as contas aos resultados do descuidar.
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