"Para os professores de Português, novo programa vai potenciar chumbos"
Está em discussão pública o Programa de Português para o
Ensino Básico. A Associação dos Professores de Português vem exprimir sérias
reservas face ao que agora se conhece.
Sem estranheza e ao contrário que parecia ser razoável, o
novo Programa é definido de forma a subordinar-se às metas curriculares que
foram definidas em 2012.
Assim, considerando as metas curriculares e o papel
determinante atribuído pelo MEC aos exames e também sem considerar o parecer do
CNE sobre a relação entre a retenção escolar e os conteúdos curriculares surge
um “um currículo balizado por programas
excessivamente extensos e por correspondentes metas curriculares anuais”, que
“tem como objectivo a avaliação externa" e “impede a flexibilização do
currículo e dos programas, bem como a criação de momentos de consolidação das
aprendizagens e recuperação das áreas menos conseguidas”.
Ainda segundo a Associação dos
Professores de Português, “Desta forma, impede que se responda à situação dos
alunos que, cumprindo o plano de estudos regular, evidenciam dificuldades no
seu acompanhamento”, lê-se no Público.
Talvez seja de recordar que, no caso do Português e da Matemática para
o 1º ciclo as metas curriculares estabelecidas definem um total de 177 objectivos e 703 descritores. Por anos,
temos: no 1º ano 33 objectivos e 143 descritores; no 2º, 47 objectivos e 168
descritores; no 3º, 51 objectivos e 202 descritores e no 4º, 46 objectivos e
190 descritores. É obra, uff.
Este entendimento faz correr o sério risco de que o ensino
se transforme na gestão de uma espécie de "check list" das metas
estabelecidas implicando a impossibilidade de acomodar as diferenças, óbvias,
entre os alunos, os seus ritmos de aprendizagem o que culminará, antecipa-se,
com a realização de exames todos os anos. Aliás, neste contexto é preocupante a
afirmação dos autores das metas curriculares, de que estas estabelecem o que os
alunos deverão imprescindivelmente revelar, “exigindo da parte do professor o
ensino formal de cada um dos desempenhos referidos nos descritores”.
Como exemplos de descritores podemos mostrar “Apropriar-se
de novos vocábulos: reconhecer o significado de um mínimo de 150 novas
palavras, relativas a temas do quotidiano, áreas de interesse dos alunos e
conhecimento do mundo (exemplos de áreas vocabulares: casa, família, escola,
vestuário, profissões, festas, animais, jardim, cidade, campo)” ou “Ler pelo
menos 45 de 60 pseudo-palavras (sequências de letras que não têm significado
mas que poderiam ser palavras em português) monossilábicas, dissilábicas e
trissilábicas (em 4 sessões de 15 pseudo-palavras cada” ou “ler um texto com
articulação e entoação razoavelmente correctas e uma velocidade de leitura de,
no mínimo, 90 palavras por minuto”.
Aplicar este modelo de trabalho em sala de aula para um
grupo com mais de 20 alunos é uma tarefa que eu diria impossível.
Em síntese e como afirma a Associação de
Professores de Português, um modelo curricular de natureza “fortemente prescritivo,
que vai empobrecer a educação e promover a retenção escolar dos alunos”.
Parece-me importante recordar que alguns
trabalhos de investigação que têm vindo a ser desenvolvidos, cito o da Professora Dulce Gonçalves da Universidade de
Lisboa, evidenciam a desadequação e os problemas criados pelas metas
curriculares.
Não será difícil antecipar que este novo Programa de Português para o ensino básico assente
nas metas curriculares, tal como estão definidas, corre o sério risco de vir a ser parte do problema, o
sucesso dos alunos, e não parte da solução.
É evidente que esta opção é coerente com a visão de educação, educação e ensino públicos que a equipa do MEC assume.
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