A coisa resume-se facilmente.
A Fundação para a Ciência e Tecnologia contratou uma moribunda
European Science Foundation para um trabalho extraordinário, liquidar parte
significativa das estruturas de investigação existentes em Portugal.
Definiu à partida que metade das
entidades deveriam ser eliminadas logo na primeira fase e a ESF que
fizesse o trabalho. Para dar suporte às decisões recorreu-se de forma
absolutamente delirante à tirania dos índices bibliométricos através da
Elsevier e constituíram-se equipas de avaliadores que sem dar a cara se
dispuseram a fazer o trabalho sujo, eliminar 50% dos centros e laboratórios da
passagem à fase seguinte da avaliação, objectivo constante do contrato
estabelecido como veio a saber-se posteriormente.
O resultado deste tenebroso
processo é conhecido, pode aceder-se a muitos exemplos no blogue Rerum
Natura e na imprensa onde têm sido reportados sucessivos exemplos de avaliações
e tomadas de posição de investigadores e estruturas, quer em Portugal, quer no estrangeiro.
Nas avaliações realizadas
verificou-se de tudo, critérios ambíguos e falta de transparência, avaliação de
áreas científicas por avaliadores fora dessa área e sem peso científico,
avaliações completamente contraditórias, mal fundamentas, sobre o mesmo
trabalho, ignorância sobre algumas temáticas em avaliação, desconhecimento das
variáveis contextuais, etc.
O resultado pretendido pela FCT
foi atingido, boa parte do tecido de investigação em Portugal foi,
vai ser, destruído. Muitos Laboratórios e Centros de investigação com
resultados importantes e reconhecidos têm fortemente comprometido, quando não
impossibilitado, o seu trabalho. É uma irresponsabilidade ética e politicamente
delinquente.
Nada disto quer dizer,
evidentemente, que a investigação não deva ser avaliada e escrutinados os
apoios financeiros. A questão é que esta avaliação deve ser séria e competente,
com critérios claros e por avaliadores reconhecidos e competentes nas
áreas que avaliam.
Também sem surpresa e na linha
das apreciações do Ministro Nuno Crato, o Presidente da FCT, Miguel Seabra,
afirmou que o processo foi competente e adequado, promove a
excelência, o rigor ... blá, blá, blá. Trata-se do estranho entendimento de
normalidade que faz escola no MEC.
O resultado é cada vez mais
claro, boa parte das estruturas de investigação portuguesas, nomeadamente nas
proscritas ciências sociais estão condenadas a desaparecer, a curto e médio
prazo.
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