Continuo sem conseguir o acesso ao estudo encomendado pela Direcção-Geral
da Educação ao Centro de Reabilitação Profissional de Gaia, "“Avaliação
das Políticas Públicas – Inclusão de Alunos com Necessidades Educativas
Especiais (NEE): O Caso dos Centros de Recursos para a Inclusão”. Assim, vou
comentando o que a comunicação social vai divulgando.
Ontem lia-se no Observador, “Os recursos humanos, físicos e
financeiros afetos ao modelo de educação inclusiva não serão completamente
adequados, afetando a ação dos CRI e dos próprios agrupamentos de escolas e
escolas, bem como o desenvolvimento e aprendizagens dos alunos com necessidades
educativas especiais”. No entanto,
apesar das dificuldades enunciadas, era referida a avaliação "bastante
positiva" por parte de alunos, encarregados de educação,
professores das escolas de ensino regular e técnicos dos Centros de Recursos
para a Inclusão.
Também já afirmei que apesar de não conhecer o Relatório e sem exprimir,
portanto, nenhuma reserva face a metodologias e isenção, julgo que o estudo
deveria ser realizado por entidades externas ao universo em estudo. O MEC
ensinou-nos a ser cautelosos, por assim dizer.
No DN de hoje o Secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário faz a
apologia do modelo instituído e reconhece falta de meios e recursos pelo que
afirma estarem a ser feitos progressos, "No atual ano letivo, já
reforçámos em cerca de 20% o financiamento da educação especial para os
CRI", o apoio passou de 8,6 milhões de euros para 10,4 milhões. Afirma
ainda a intenção de reforço e alargamento do número e do prazo dos contratos a
estabelecer.
Do meu ponto de vista, um dos problemas da designada educação especial é
justamente este modelo que não parece
ser questionado na avaliação. O MEC, dentro da sua visão política. desinveste
na educação e escola públicas e vai entregando à iniciativa privada serviços
educativos, repito serviços educativos, que no âmbito da escolaridade obrigatória
deveriam ser da responsabilidade e competência dos serviços educativos
públicos.
De facto, tem florescido a prestação por parte de estruturas privadas de
serviços educativos não só dos Centros de Recursos para a Inclusão como também
empresas de prestação de serviços na área dos apoios ou da psicologia.
Não quero, nem devo, discutir
aqui a natureza específica, quer em termos de adequação, quer de qualidade da
intervenção dos técnicos envolvidos, conheço experiências muito positivas e
experiências verdadeiramente atentatórias contra os direitos dos alunos a uma
educação de qualidade.
A minha questão é o modelo que a
suporta e os recursos necessários. A situação existente assume um modelo
errado, ineficaz, independentemente do esforço e competência dos profissionais
envolvidos. Trata-se, também aqui, de mais uma entrega de serviço público aos
mercados.
Como é que se pode esperar que
alguém de fora da escola, fora da equipa, técnica e docente, fora dos circuitos
e processos de envolvimento, planeamento e intervenção desenvolva um trabalho
consistente, integrado e bem sucedido com os alunos e demais elementos da
escola?
Se se entende que os técnicos
podem ser úteis na escola como suporte às dificuldades de alunos, professores e
pais, em diversos áreas, não substituindo ninguém, mas providenciando
contributos específicos para os processos educativo, então devem fazer parte
das equipas das escolas, base evidentemente necessária ao sucesso da sua
intervenção.
Quero ainda referir que as
estruturas como os designados CRI podem e devem ter um papel importante no
universo da educação, por exemplo na chamada transição para a vida activa no
final e após a escolaridade obrigatória, que deve ser enquadrado pelas escolas
no âmbito da sua autonomia que vai sendo beliscada apesar da retórica do MEC.
Parece-me no entanto que
qualidade e EDUCAÇÂO inclusiva não são compatíveis com um modelo que assenta no
"outsourcing" apesar, repito, de algumas boas práticas que se
conhecem.
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