"Curso superior permite ganhar até 1,7 milhões de euros a mais ao longo da vida
Cálculos pedidos pelo Conselho Nacional de Educação mostram diferenças médias de salário acentuadas entre quem é licenciado e quem se fica pelo 9º ano ou pelo ensino secundário"
Segundo um estudo do Conselho
Nacional de Educação um indivíduo com formação universitária, ao longo da vida
activa, ganhará mais cerca de 1,7 milhões de euros face a alguém com o 9º ano.
Mesmo comparando com o 12º ano a diferença continua muito significativa.
Estes dados, coincidentes com
estudos da OCDE, acentuam, de novo, a importância da qualificação.
Acontece que, lamentavelmente,
estamos a assistir a um abaixamento significativo de alunos que pretendem
frequentar o ensino superior. Este trajecto traduz-se no número de candidatos
ao ensino superior e também se ilustra por um trabalho da EPIS – Associação de
Empresários pela Inclusão Social divulgado há meses que inquiriu 2200 alunos de 30 escolas de 11 municípios
portugueses e constatou que apenas 54.5% dos inquiridos tem intenção de
frequentar o ensino superior, o valor mais baixo dos 3 anos em que decorreu o
inquérito. Na mesma linha, aumenta o número de alunos que pretende ficar pelo
12º, 39.5%, e dos que nem sequer pretendem passar do 9ºano, 6%. Aos dados dos
alunos acresce um abaixamento das expectativas das famílias de que os seus
filhos entrem no ensino superior.
Estes dados são preocupantes como
várias vezes tenho aqui referido pois esta tendência vem sendo registada.
Presumo, há também indicadores
nesse sentido, que as dificuldades económicas não serão alheias às intenções
manifestadas. No entanto, temo que o número relativamente baixo de alunos com a
intenção de adquirir formação de nível superior possa também estar ligado à
perversa e errada ideia do “país de doutores” que, muitas vezes com o auxílio de
uma imprensa preguiçosa e negligente, se foi instalando a propósito do número
de jovens licenciados no desemprego e da conclusão de que “não vale a pena
estudar”, um verdadeiro tiro no pé e que não corresponde de todo à verdade.
Em primeiro lugar, os jovens
licenciados não estão no desemprego por serem licenciados, estão no desemprego
porque temos um mercado pouco desenvolvido e ainda insuficientemente exigente
de mão-de-obra qualificada e muitos estão no desemprego porque, por
desresponsabilização da tutela, a oferta de formação do ensino superior é
completamente enviesada distorcendo o equilíbrio entre a oferta e a procura.
Também não esqueço, recorrente o
afirmo, que é urgente aprofundar a estruturação de percursos formativos
diferenciados, nem todos têm que acabar no ensino superior, evidentemente, mas
esta diferenciação na oferta formativa e na duração dos percursos de educação e
qualificação não pode assentar na ideia de percurso de "primeira",
para os mais dotados, e de percursos de "segunda" para os outros.
Mais grave ainda é o abandono escolar sem qualificação.
É ainda importante recordar que,
segundo o Relatório da OCDE, "Education at a Glance 2012", já aqui
citado, a diferença salarial de jovens com licenciatura para jovens com
formação a nível do secundário, é de 69 %, um bom indicador para o impacto da
qualificação. Aliás, Portugal é um dos países em que mais compensa adquirir
formação e qualificação.
Neste cenário e como sempre
afirmo, o discurso muitas vezes produzido no sentido de que "não adianta
estudar" não colhe e não tem sustentação, sendo um autêntico tiro no pé de
uma sociedade pouco qualificada como a nossa.
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