A rotina de diariamente ler os jornais e assistir, quando a
lida permite, a um noticiário televisivo deixa-me frequentemente num estado
ambivalente.
Por uma lado, sinto-me "obrigado" a saber o que
se passa, por outro lado, inquieta-me que, acontecendo as coisas como acontecem,
com consequências negativas para muitos de nós, pareça ser tão difícil retirar
efeito de aprendizagem e amanhã, no dia depois de amanhã e no dia depois do dia
depois de amanhã, vamos, de novo ler as mesmas notícias, com as mesmas
consequências, os mesmos protagonistas, numa estranha forma de habituação
acomodada.
Entretanto, lembrei-me da Cantata da Paz, da Sophia de Melo
Breyner, “Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar”.
Mas, como sabem, os poetas não sabem das coisas da vida,
são uns fingidores. Nós, vemos, ouvimos e lemos e sempre, sempre, vamos
ignorar.
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