Foi com curiosidade que encontrei
a referência a uma investigação em desenvolvimento no âmbito do Departamento de
Desporto e Saúde da Universidade de Évora relativa às brincadeiras de luta,
“aquelas que as crianças fingem disputar fisicamente entre si”, são “animadas e
barulhentas [mas são], muitas vezes, vistas com desconfiança por pais e
educadores [e] frequentemente rotuladas como perigosas ou inapropriadas” conforme refere Guida Veiga, docente nesse Departamento.
O estudo identifica benefícios
nesse tipo de actividades, as crianças desenvolvem competências no conhecimento
do corpo, na regulação das emoções e nos comportamentos de interacção entre
pares dado que “Estas interacções envolvem contacto físico, controlo emocional
e motor e uma sincronização social que são fundamentais para a saúde e o
bem-estar das crianças”, afirma ainda a Professora Guida Veiga acentuando a natureza
pioneira deste trabalho que envolve cerca de 150 crianças entre os 3 e os 6
anos nos concelhos Évora e Redondo.
Parece-me interessante este
trabalho e lembrei-me de um texto que coloquei no Atenta Inquietude em 2008, já
lá vão 17 anos anos. Dizia assim:
Passou um médico e pensou que eles talvez se magoassem porque aquelas brincadeiras podem ser perigosas.
Passou um antropólogo e pensou
como ainda provavelmente se realizam lutas simbólicas por territórios, apesar
das mudanças culturais.
Passou um pai e pensou como era
possível que as crianças estivessem ali sozinhas nos dias que correm.
Passou um professor e pensou como
seria mais útil que estivessem a ler algo de interessante.
Passou um sociólogo e pensou como
desde cedo se procura hierarquizar as relações sociais.
Passou um psicólogo e pensou como
começa a ser tão frequente o bullying.
Passou um padre e pensou como os
padrões morais que regem os comportamentos se alteram e a violência se instala.
Passou outro miúdo e perguntou
“Estão a brincar a quê?”. Responderam os outros, “Às lutas, também queres
brincar?”, “Quero”.
E ficaram três miúdos a
rebolarem-se no chão um bocado engalfinhados. E felizes.
Sem comentários:
Enviar um comentário