domingo, 11 de maio de 2025

QUANTO TEMPO É QUE TE FALTA?

 Lê-se no Público que nos primeiros seis meses de 2025 se aposentaram mais de 1600 professores, perto do que aconteceu em 2024.

Por outro lado, os sindicatos prevêem que no final do ano as aposentações sejam superiores a 4000 o que poderá superar o ano anterior e aproximar-se dos dados de 2013 com 4600 professores aposentados.

É certo que não é um problema exclusivo do nosso sistema educativo, mas como tantas vezes tem sido afirmado, este cenário estava estudado e previsto há já alguns anos, mas as políticas públicas negligentes ou incompetentes seguidas de há uns anos para cá contribuem para o actual quadro.

Embora haja quem assobie para o ar, não esquecemos os discursos sobre “professores a mais” ou as sugestões para emigrar dirigidas a docentes em início de carreira, como também não esquecemos tempos severos de desvalorização dos professores em termos sociais, modelo de carreira e salarial com impacto fortíssimo na atractividade da profissão por gente jovem que a rejuvenescesse e alimentasse.

Aliás, as políticas seguidas em matéria de educação também contribuíram para o cansaço e mal-estar, desencanto e desejo de abandono da profissão que se foi instalando em muitos docentes.

A propósito, relembro que, há já uns anos largos, uma professora, na altura minha aluna de doutoramento, me perguntava, com um ar meio sério, meio a brincar, se podia desenvolver a sua tese a partir de uma questão que considerava a mais ouvida nas salas de professores, quando no meio da burocracia e das actividades ainda havia tempo para passar na sala de professores, “quanto tempo é que te falta?”. A sua ideia não foi para a frente enquanto doutoramento, mas o que lhe está subjacente é bem claro e bem preocupante. O resultado está à vista.

Na verdade, ser professor é uma das funções mais bonitas do mundo, ver e ajudar os miúdos a ser gente, mas é seguramente uma das mais difíceis e que mais valorização nas diferentes dimensões e apoio deveria merecer. Do seu trabalho competente e valorizado depende o nosso futuro, (quase) tudo passa pela educação e pela escola.

Qual é parte que não se percebe?

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