Segundo um estudo hoje divulgado, os salários
médios em Portugal baixaram pelo segundo ano consecutivo. Conjugando esta
informação com dados INE, fica claro o trajecto de proletarização e
empobrecimento que as políticas em curso e em perspectiva impõem à economia e
ao mercado de trabalho. Em Portugal, cerca de 690 000 pessoas, 15% da população
empregada, trabalham 48 horas ou mais por semana, o critério internacional para
"trabalho excessivo". Este número tem vindo a aumentar
mas, provavelmente para compensar, o salário médio líquido da economia tem
vindo a baixar o que é coerente com o empobrecimento e proletarização
desejados, mais trabalho e menos salário. Veja-se a decisão de aumentar a carga
horária dos funcionários da administração pública e o processo em curso de
despedimento mascarado.
Acresce a esta situação o elevadíssimo nível de
desemprego, sobretudo desemprego jovem
de longa duração sendo que também deve ser considerado impacto da altíssima carga fiscal nos rendimentos familiares finais.
De notar ainda que desde o início da intervenção
da Troika que nos governa o emprego apenas cresceu no patamar com salários até
310 €, um assombro.
É difícil de entender a persistência numa
estratégia de empobrecimento como salvação para as dificuldades num país em que
perto de três milhões de pessoas, quase um terço da população está risco de
pobreza. Este é o resultado de uma persistência cega e surda no “custe o que
custar", no cumprimento dos objectivos do negócio com a troika e dos
objectivos de uma política "over troika", atingindo claramente o
limite do suportável e afectando gravemente as condições de vida de milhões.
Estamos a falar de pessoas, não de políticas, ou melhor estamos a falar do
efeito das políticas na vida das pessoas. E estamos no “bom caminho”?
Ter como preocupação quase exclusiva o
abaixamento dos custos do trabalho através do aumento da carga horária e do
abaixamento de salários não parece ser a forma mais eficaz de combater o
desemprego, promover desenvolvimento e criação de riqueza.
Parece razoavelmente claro que a proletarização
da economia não poderá ser a base para o desenvolvimento económico, mas sim o
investimento e a disponibilização de crédito a custos razoáveis, sobretudo para
as pequenas e médias empresas que de forma mais ágil criam emprego e emprego
qualificado que não pode ter a indignidade dos salários que conhecemos.
O que precisamos é de coragem e visão sem
subserviência ao ditado dos mercados e dos seus agentes para definir modelos
económicos, sociais e políticos destinados a pessoas e não a mercados ou a
grupos minoritários de interesses.
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