segunda-feira, 16 de setembro de 2013

JÁ NÃO AGUENTO, ACABOU-SE. TUDO (nova tragédia)

Apenas com a actualização do nome, retomo uma matéria que aqui tinha abordado há poucas semanas, o suicídio de uma adolescente vítima de cyberbullying. A gravidade a regularidade destes episódios exigem uma atenção e reflexão contínuas.
Na verdade, com excessiva frequência vão acontecendo tragédias como a que vitimou agora outra menina, Rebecca, americana de 12 anos que se suicidou após algum tempo a sofrer de cyberbullying através das redes sociais.
Umas notas sobre este universo o bullying nas suas diversas formas, incluindo o emergente cyberbullying, fenómeno que assume na generalidade dos países taxas de ocorrência muito significativas e preocupantes. Aliás, estima-se que nos últimos três anos o fenómeno tenha provocado pelo menos 12 suicídios nos Estados Unidos. Recordo ainda que foi anunciado no início deste mês que a Direcção-geral de Saúde irá promover durante o próximo ano lectivo em várias escolas do país um projecto de prevenção do suicídio dirigido a adolescentes. A taxa de suicídio em Portugal não é muito alta, embora um só caso já seja uma tragédia. No entanto, os comportamentos de natureza auto-destrutiva são bem mais prevalentes do que se pensa. Em algumas circunstâncias, mais tarde estes comportamentos podem culminar em suicídio.
São frequentes os relatos na imprensa sobre situações de abuso e bullying nas nossas escolas, por vezes com situações de sofrimento particularmente graves levando, no limite, a tragédias como a de Rebecca que deu fim à sua narrativa após algum tempo de tormento.
Felizmente que os casos de bullying nas suas diversas formas não terminam todos nesta tragédia, mas são sempre um drama com enorme potencial de risco.
Assim sendo e dada a frequência com que ocorrem estes episódios é imprescindível que lhes dediquemos atenção ajustada, nem sobrevalorizando o que promove insegurança e ansiedade, nem desvalorizando negligenciando riscos e sofrimento.
Neste universo importa considerar dois eixos fundamentais de intervenção por demais conhecidos, a prevenção e a intervenção depois dos problemas ocorrerem. Esta intervenção pode, por sua vez e de forma simplista, assumir uma componente mais de apoio e correcção ou repressão e punição, sendo que podem coexistir.Com alguma demagogia e ligeireza a propósito do bullying, as vozes a clamar por castigo têm do meu ponto de vista falado mais alto que as vozes que reclamam por dispositivos de prevenção, intervenção e apoio para além da óbvia punição, quando for caso disso.
Relembro que o Portal sobre o bullying teve durante o seu primeiro ano de funcionamento cerca de 650 000 visitas e respondeu a 700 solicitações.
Esta utilização mostra a necessidade de dispositivos de apoio e orientação absolutamente fundamentais para que pais, professores e alunos possam obter informação e apoio. Lamentavelmente, este serviço é exterior às escolas e ilustra a falta de resposta estruturada e global do sistema educativo, para além das insuficiências na formação de técnicos e de professores sobre esta complexa questão, desde logo para o seu reconhecimento. A definição de dispositivos de apoio sediados nas escolas, com recursos qualificados e suficientes é, a par de ajustamentos nos modelos de organização e funcionamento das escolas e de uma séria reestruturação curricular, uma tarefa urgente.
Do meu ponto de vista, o argumento custos não é aceitável porque as consequências de não mudar são incomparavelmente mais caras. Depois das ocorrências torna-se sempre mais fácil dizer qualquer coisa mas é necessário. Muitas crianças e adolescentes evidenciam no seu dia a dia sinais de mal-estar a que, por vezes, não damos atenção, seja em casa, ou na escola, espaço onde passam um tempo enorme. Estes sinais não podem, não devem, ser ignorados ou desvalorizados.
O resultado pode ser trágico. A Rebecca, a Hannah, a menina britânica que também se suicidou há poucas semanas, tal como muitas outras, descansaram da única forma que não podiam e não deviam.

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