Apenas com a actualização do nome, retomo uma matéria que aqui tinha abordado há poucas semanas, o suicídio de uma adolescente vítima de cyberbullying.
A gravidade a regularidade destes episódios exigem uma atenção e reflexão contínuas.
Na verdade, com excessiva frequência vão
acontecendo tragédias como a que vitimou agora outra menina, Rebecca, americana
de 12 anos que se suicidou após algum tempo a sofrer de cyberbullying através
das redes sociais.
Umas notas sobre este universo o bullying nas
suas diversas formas, incluindo o emergente cyberbullying, fenómeno que assume
na generalidade dos países taxas de ocorrência muito significativas e
preocupantes. Aliás, estima-se que nos últimos três anos o fenómeno tenha
provocado pelo menos 12 suicídios nos Estados Unidos. Recordo ainda que foi anunciado no início deste mês que a Direcção-geral de Saúde irá promover durante o próximo ano lectivo em várias escolas do país um projecto de prevenção do suicídio dirigido a adolescentes. A taxa de suicídio em Portugal não é muito alta, embora um só caso já seja uma tragédia. No entanto, os comportamentos de natureza auto-destrutiva são bem mais prevalentes do que se pensa. Em algumas circunstâncias, mais tarde estes comportamentos podem culminar em suicídio.
São frequentes os relatos na imprensa sobre situações
de abuso e bullying nas nossas escolas, por vezes com situações de sofrimento
particularmente graves levando, no limite, a tragédias como a de Rebecca que deu
fim à sua narrativa após algum tempo de tormento.
Felizmente que os casos de bullying nas suas
diversas formas não terminam todos nesta tragédia, mas são sempre um drama com
enorme potencial de risco.
Assim sendo e dada a frequência com que
ocorrem estes episódios é imprescindível que lhes dediquemos atenção
ajustada, nem sobrevalorizando o que promove insegurança e ansiedade, nem
desvalorizando negligenciando riscos e sofrimento.
Neste universo importa considerar dois eixos
fundamentais de intervenção por demais conhecidos, a prevenção e a intervenção
depois dos problemas ocorrerem. Esta intervenção pode, por sua vez e de forma
simplista, assumir uma componente mais de apoio e correcção ou repressão e
punição, sendo que podem coexistir.Com alguma demagogia e ligeireza a propósito do
bullying, as vozes a clamar por castigo têm do meu ponto de vista falado mais
alto que as vozes que reclamam por dispositivos de prevenção, intervenção e
apoio para além da óbvia punição, quando for caso disso.
Relembro que o Portal sobre o bullying teve
durante o seu primeiro ano de funcionamento cerca de 650 000 visitas e respondeu
a 700 solicitações.
Esta utilização mostra a necessidade de
dispositivos de apoio e orientação absolutamente fundamentais para que pais,
professores e alunos possam obter informação e apoio. Lamentavelmente, este
serviço é exterior às escolas e ilustra a falta de resposta estruturada e
global do sistema educativo, para além das insuficiências na formação de
técnicos e de professores sobre esta complexa questão, desde logo para o seu
reconhecimento. A definição de dispositivos de apoio sediados nas escolas, com
recursos qualificados e suficientes é, a par de ajustamentos nos modelos de
organização e funcionamento das escolas e de uma séria reestruturação
curricular, uma tarefa urgente.
Do meu ponto de vista, o argumento custos não é
aceitável porque as consequências de não mudar são incomparavelmente mais
caras. Depois das ocorrências torna-se sempre mais fácil dizer qualquer coisa
mas é necessário. Muitas crianças e adolescentes evidenciam no seu dia a dia
sinais de mal-estar a que, por vezes, não damos atenção, seja em casa, ou na
escola, espaço onde passam um tempo enorme. Estes sinais não podem, não devem,
ser ignorados ou desvalorizados.
O resultado pode ser trágico. A Rebecca, a Hannah,
a menina britânica que também se suicidou há poucas semanas, tal como muitas
outras, descansaram da única forma que não podiam e não deviam.
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