O DN de hoje apresenta um oportuno trabalho sobre
um dos aspectos que, do meu ponto de vista, terá mais influência na qualidade do
trabalho de alunos e professores durante o ano lectivo que agora se inicia, a
dimensão das turmas.
No trabalho, para o qual me foi solicitado um
pequeno contributo, sublinha-se a situação mais particular de turmas do 1º
ciclo em que, para além do número global de alunos, são integradas por alunos de diferentes anos de escolaridade e das dificuldades daí decorrentes.
Ainda sobre esta questão, na imprensa de hoje também se encontram alertas das
estruturas representativas dos professore para inúmeras situações de
incumprimento do estipulado relativamente ao número de alunos por turma incluindo
as turmas que integram alunos necessidades especiais.
Com razoável frequência aqui tenho abordado a
questão do número de alunos por turma no nosso sistema educativo e no seu
impacto, considerando as características dos diferentes territórios educativos.
Aliás seria interessante perceber qual o efectivo médio das turmas dos alunos
com notas mais baixas nos últimos exames nacionais nos diferentes ciclos do
Ensino Básico.
Recordo que o relatório anual “Education at a
Glance 2012” da OCDE, assinalava que apesar de Portugal ter investido no
sentido de proporcionar mais tempo de trabalho aos alunos, foi o país em que o
número de alunos por turma mais cresceu o que degrada a qualidade do ensino. A
decisão de subir o número máximo de alunos por turma no 1º ciclo para 26
alunos e do 5º ano ao 12º para 30 conjugada com a criação dos agrupamentos e
mega-agrupamentos, gerando a uma excessiva concentração de alunos, levará
inevitavelmente a que na generalidade das situações seja atingido, ou excedido, o número
máximo de alunos e a inclusão de alunos em diferentes anos de escolaridade no
1º ciclo. Assim, apesar da média nacional, segundo o MEC, passar de 21 para 22
alunos, boa parte das escolas ficará com turmas com um número de alunos bem
superior como agora é evidente pelos relatos conhecidos.
Sabemos todo que a discussão em torno do número
de alunos por turma que se entende como razoável é complexa e muitas vezes
sujeita a equívocos. Lembro-me de há algum tempo, o Ministro Nuno Crato, a
propósito da decisão de aumentar o efectivo das turmas no E. Básico e
Secundário, ter argumentado que os estudos não evidenciam relação directa entre
o número de alunos por turma e os resultados escolares, uma afirmação que
evidentemente deve ser desmontada, pois o número de alunos por turma é apenas
uma das variáveis componentes de um processo complexo e, só por si,
insuficiente para explicar os resultados.
Por princípio, turmas menores, dentro de
parâmetros razoáveis, favorecem a qualidade do trabalho dos professores e dos
alunos com naturais consequências nos resultados escolares e no comportamento.
No entanto, é também necessário considerar as diferenças de contexto, isto é, a
população servida por cada escola, as características da escola, a constituição
do corpo docente, os recursos disponíveis, etc. sendo ainda de sublinhar que a
qualidade e sucesso do trabalho de professores e alunos depende de múltiplos
factores, sendo que a dimensão do grupo é apenas um, ou seja, importa
considerar, vejam-se relatórios e estudos nesta área, as práticas pedagógicas,
os processos de organização e funcionamento da sala de aula e da escola, bem
como o nível de autonomia de cada escola ou agrupamento. Neste quadro e
considerando o sistema educativo português, o aumento do número de alunos por
turma parece ser um mau contributo para a qualidade dos resultados escolares.
Em termos mais concretos, em algumas escolas,
mesmo no sistema público, uma turma de 25 alunos ou mais pode ser ingerível e o
sucesso dificilmente alcançável, enquanto noutras escolas a realidade pode ser
bem diferente, com contornos mais tranquilos.
Como já tenho afirmado, o aumento de alunos
por turma, libertando horários de professores, o que parece ter-se tornado no
eixo central da PEC - Política Educativa em Curso, pode tornar-se uma fonte de
problemas, dificultando melhorias na qualidade de trabalho de alunos e
professores. Apesar das afirmações dos responsáveis, para não variar, o arranque do ano lectivo não se adivinha tranquilo.
Lembro-me do tempo em que o opinador Nuno Crato
se servia das publicações da OCDE para evidenciar e sustentar fragilidades nas
políticas educativas da altura.
Actualmente, o Ministro Nuno Crato, bom aluno,
aprendeu depressa, desvaloriza as sucessivas publicações da OCDE que têm vindo
revelar o caminho errado que alguma da política de que é responsável vem
percorrendo.
Poderia dizer que fico surpreendido.
Lamentavelmente, não fico, apenas se mantém uma enorme preocupação.
2 comentários:
eu ja fui aluno, e sempre disse que os alunos teriam muito mais a ganhar se as turmas fossem mais reduzidas, a atenção dada seria diferente, mas visto que reduzem cada vez mais a colocação de professores as turmas sao obrigatoriamente maiores. quem paga? os alunos claro e o estado ganha com isso...
http://ocarteiravazia.blogspot.pt /
As turmas grandes não cabem nas salas que as escolas têm disponíveis! Começa logo por aqui.
Algunas alunos nem veem o quadro!
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