O Presidente não executivo do Grupo Jerónimo Martins, Alexandre Soares dos Santos, entende
que se torna necessário "Adaptar a nossa Constituição aos tempos de hoje,
que são completamente diferentes dos tempos de 1976 ou lá quando é que isso foi
feito. Nós temos que ter uma actualização permanente”.
E como é habitual traça o seu retrato da situação portuguesa
sublinhando a qualificação e o peso negativo da partidocracia e da gestão das
suas influências. Claro que este discurso colhe, mas gostava de recordar umas
notas antigas.
"Sem surpresa, estamos em Portugal, o
Tribunal da Concorrência de Santarém decidiu reduzir para menos de metade a
multa que a Autoridade da Concorrência tinha decidiu aplicar à cadeia de
supermercados da Jerónimo Martins por vendas abaixo do preço de custo na
extraordinária campanha de 50% de desconto no 1º de Maio o que lhe valeu a
obscena multa de 30 000€.
O crime compensa. Recordo que Soares dos Santos
afirmou na imprensa a obtenção de um ganho de 25 a 27 milhões de euros com o
amargo espectáculo que o Pingo Doce, proporcionou nesse 1º de Maio.
Ainda em relação a práticas deste grupo
económico, lembram-se que o Pingo Doce anunciou deixar de aceitar pagamentos
com cartão de crédito ou débito para quantias abaixo dos 20€. No folheto de
anúncio da medida, dirigido aos consumidores, lia-se que, "ao pagar as
suas compras com dinheiro até 20 euros está a ajudar-nos a concretizar mais
oportunidade de poupança para si". Um fino exemplo de hipocrisia e manha.
Na verdade, a decisão permite ao Grupo uma
poupança estimada em cinco milhões de euros. A DECO considera a medida pouco
favorável aos consumidores em termos de comodidade e segurança.
Compreendo evidentemente que a gestão de uma
qualquer empresa deve, necessariamente, considerar a economia de custos pelo que,
do ponto de vista do Grupo Pino Doce, a decisão inscreve-se num acto de gestão
que visa redução de custos através da poupança nas comissões relativas aos
terminais. Tudo bem, é a economia, o mercado.
O que me causa algum embaraço nestas histórias é
a recorrente postura e discurso hipócrita da liderança do Grupo,
designadamente, de Alexandre Soares dos Santos que se assume como campeão de
ética e transparência, lembram-se certamente da famosa declaração pública
"Truques é para o Sócrates, não comigo".
Também recordo, Nicolau Santos denunciou-o no
Expresso, que quando o Governo fez aumentar o IVA, foi publicitado até à
exaustão que a cadeia Pingo Doce não o aumentou, mas, na verdade, repercutiu o
aumento nos preços pagos aos produtores, esmagando, assim, as suas já reduzidas
margens. Continuou desta forma manhosa a assegurar a fatia de leão do lucro, a
distribuição, e ainda pôde proclamar que não aumentou o IVA. Entretanto,
certamente com cobertura legal, também mudou para a Holanda a sede de algumas
actividades do Grupo, à procura de benefícios fiscais.
Com a maior desfaçatez estas e outras iniciativas
têm invariavelmente o intuito afirmado de ajudar e defender as famílias e as
suas dificuldades.
Assim, para que não passe por pobre e mal
agradecido, em meu nome e em nome de milhares de outras famílias, o meu muito
obrigado ao Pingo Doce e a Alexandre Soares dos Santos pela persistente defesa
dos nossos interesses sacrificando os seus próprios objectivos."
Na verdade, façam o que eu digo, não façam o que
eu faço. Estamos fartos de lições desta natureza. Alexandre Soares dos Santos
terá, evidentemente, os seus méritos mas poupe-nos a lições em termos de ética.
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