A Direcção-geral de Saúde irá promover durante o próximo ano
lectivo em várias escolas do país um projecto de prevenção do suicídio dirigido
a adolescentes. As taxas de suicídio em Portugal não é muito alta, embora um só
caso já seja uma tragédia. No entanto, os comportamentos de natureza
auto-destrutiva são bem mais prevalentes do que se pensa. Em algumas
circunstâncias, mais tarde estes comportamentos podem culminar em suicídio.
Os comportamentos autodestrutivos em adolescentes
são mais frequentes do que muitas vezes pensamos. Alguns estudos realizados em
Portugal referem, provavelmente com alguma surpresa, que 15.6 % dos adolescentes
inquiridos, com catorze anos de idade média, afirmaram ter-se magoado de
propósito mais do que uma vez nos últimos doze meses à data do estudo. Alguns
estudos internacionais apontam para cerca de 10% da população em idade escolar
com comportamentos de auto-mutilação pelo que os dados encontrados em
Portugal são, de facto, preocupantes.
Exige-se pois, uma enorme atenção aos miúdos
e ao seu funcionamento. Este quadro é um indicador do mal-estar que muitos
adolescentes e jovens sentem. Em muitas situações não conseguimos estar
suficientemente atentos. "Há um ano que nos apercebemos de que as crianças
gozavam com as orelhas do Rafael, mas pensávamos que era uma situação
resolvida. É de lamentar, sinceramente. Ele era um menino querido",
palavras de uma professora da escola de um menino que se suicidou, citadas na
imprensa.
Acontecem com alguma frequência situações de
sofrimento com as mais diversas origens, relações entre colegas, bullying por
exemplo, ou relações degradadas em família que facilitam a instalação de
sentimentos de rejeição, ausência de suporte social, facilitadoras de comportamentos
autodestrutivos. Começa também a emergir como causa deste mal estar a
dificuldade que algumas crianças e adolescentes sentem em lidar com situações
de insucesso escolar. Esta dificuldades são frequentemente potenciadas pela
pressão das famílias e pelo nível de competição que por vezes se instala.
Depois das ocorrências torna-se sempre mais fácil
dizer qualquer coisa mas é necessário. Muitas crianças e adolescentes
evidenciam no seu dia a dia sinais de mal-estar a que, por vezes, não damos
atenção, seja em casa, ou na escola, espaço onde passam um tempo enorme.
De facto e na maior parte dos casos, designadamente,
nas tentativas de suicídio, pode ser possível perceber sinais e comportamentos
indiciadores de mal-estar. Estes sinais não podem, não devem, ser ignorados ou
desvalorizados.
O resultado pode ser trágico.
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