No Público trata-se uma questão que me
parece importante e suscita alguma reflexão, os partos em casa. Embora a opção
possa ser aceite em termos de legitimidade de decisão dos pais, creio que a
experiência e o conhecimento disponível sugerem fortes reservas.
Conforme dados conhecidos hoje, quase duplicou o
número de partos realizados em casa no espaço de uma década, de 480 em 2000 para
perto de 900 em 2008.
Este aumento surpreende e preocupa, desde logo
porque a mortalidade infantil em partos domésticos é reconhecidamente superior
relativamente aos partos em instituições, estas "modas" como lhes
chama Ana Jorge são geradoras de risco elevado.
Na verdade, podemos dizer que, quando corre bem,
até em casa corre bem, a questão coloca-se, quando surgem complicações que em
casa não têm condições de ser respondidas.
É verdade que os partos hospitalares, sobretudo
nas instituições de saúde privadas, constituem, por assim dizer, um nicho de
mercado com um recurso desproporcionado a intervenção especializada, citemos
como exemplo, o número extremamente elevado de cesarianas para as quais,
certamente, não existirão indicações clínicas como várias estudos e comparações
com a realidade de outros países sugerem.
Também é verdade, que mesmo em situação
hospitalar poderemos ter riscos ou falta de qualidade na resposta mas do ponto
de vista dos bebés e também das mães, esses risco estarão evidentemente mais
controlados.
Há alguns meses uma reportagem televisiva,
relatava dois casos de famílias que levantaram processos a especialistas de
enfermagem obstétrica que realizaram partos em casa com resultados muito
complicados.
Dadas as questões corporativas envolvidas, não é estranha
a divergência de posições entre a Ordem dos Enfermeiros e a Ordem dos Médicos
para quem o parto em casa é um retrocesso em matéria de cuidados de saúde e
prevenção, posição que me parece bem mais ajustada.
Volto à afirmação, "quando corre bem, até em
casa corre bem", regulamente existem histórias com final feliz de crianças
que nascem, por exemplo, nas ambulâncias, mas o problema é quando corre mal.
Sei por experiência familiar, que se não fosse a qualidade da resposta da
Maternidade Alfredo da Costa, que agora está ameaçada, se aquele parto ocorrido
há trinta e poucos anos fosse em casa, provavelmente teríamos vivido uma
experiência dramática.
Finalmente, parece-me importante que se retome a
experiência natural do parto, sem os excessos da "sofisticação
médica" ou, obscuros interesses comerciais, mas partos em casa, cuidado,
os pais poderão sofrer mas a conta é da criança.
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