Um trabalho desenvolvido pela Universidade do Porto envolvendo
uns milhares de jovens mostrou que 60% relataram pelos menos um caso de
agressão psicológica, insultar por exemplo, na âmbito de relações amorosas. Um
em cada três jovens também refere pelo menos um episódio de coacção sexual e 18
% referiram pelo menos um acto de violência física, bater ou arremessar um
objecto com o objectivo de atingir o outro. É ainda de registar que mais de
metade dos jovens envolvidos assumem o estatuto de vítimas mas também de
agressores.
Estes números que são coerentes com outros estudos sobre comportamentos de violência
nas relações amorosas indiciam o que está por fazer em matéria de valores e
comportamentos sociais.
Recordo um trabalho interessante desenvolvido também sobre
este universo pela UMAR - União de Mulheres Alternativa e Resposta.
O estudo envolveu 885 pessoas com idades entre os
11 e os 18 a frequentar escolas da área do Porto e de Braga. Em síntese, pode
referir-se que para mais de metade dos inquiridos é normal proibir ao
namorado(a) o uso de determinadas roupas, 5% dos rapazes acham que agredir a
namorada não é violência. 25 % dos rapazes e 13,3% das raparigas acham que
humilhar o parceiro(a) é legítimo e 15,65 dos rapazes e 5% das raparigas
entendem que ameaçar é um comportamento normal.
Este conjunto de dados é preocupante mas creio
que não é surpreendente. Os dados sobre violência doméstica em adultos deixam
perceber a existência de um trajecto pessoal anterior que suporta os dados destes e de
outros trabalhos.
Algumas notas breves.
Os sistemas de valores pessoais alteram-se a um
ritmo bem mais lento que os nossos desejos e estão, também e obviamente,
ligados ao quadro de valores sociais presentes em cada época. De facto, e
reportando-nos apenas aos dados mais gerais, é relevante a percentagem de
jovens que afirmam um entendimento de normalidade face a diferentes
comportamentos que evidentemente significam relações de abuso e maus tratos.
Como todos os comportamentos fortemente ligados à
camada mais funda do nosso sistema de valores, crenças e convicções, os nossos
padrões sobre o que devem ser as relações interpessoais, mesmo as de natureza
mais íntima, são de mudança demorada. Esta circunstância, torna ainda mais
necessária a existência de dispositivos ao nível da formação e educação de
crianças e jovens; de uma abordagem séria persistente nos meios de comunicação
social; de um enquadramento jurídico dos comportamentos e limites numa
perspectiva preventiva e punitiva e, finalmente, de dispositivos eficazes de
protecção e apoio a eventuais vítimas.
Entretanto e enquanto não, "só faço isto,
porque gosto de ti, acreditas não acreditas?".
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