Numa intervenção pública ontem na visita a uma escola em Braga o Ministro da Educação afirmou, cito do Público “As comunidades escolares estão mobilizadas, os directores, os professores estão mobilizados, penso que conseguimos trazer tranquilidade, normalidade àquilo que deve ser o início de um ano lectivo. O balanço é positivo porque há uma mudança grande em relação ao ano anterior, isso é evidente. Temos uma mudança no estado de espírito e é isso que é essencial: que a escola dê aquilo que as famílias esperam que dê".
Na mesma intervenção afirmou "Há
demasiados alunos sem aulas, estes dados estão sempre a mudar, mas,
provavelmente, temos mais de 200 mil alunos sem aulas ainda. Mas é um problema
que estamos a tentar resolver com medidas de emergência. Temos um concurso a
decorrer para as zonas que são mais afectadas para esta falta".
Aos 70 anos e ligado à educação
desde que entrei na escola aos seis anos já não é fácil sentir-me surpreendido,
mas a verdade é que ainda me espanto.
Então temos tranquilidade,
normalidade, mudança de estado de espírito e … mais de 200 mil alunos anda não
têm aulas uma semana depois do seu início!!
Devo dizer que registo, aliás
referi isso por aqui, algumas mudanças e orientações no sentido que me parece
positivo por parte do MECI, mas não é aceitável falar em “tranquilidade” e “normalidade”.
Umas notas breves de um não
especialista sobre a questão da comunicação, sobretudo das lideranças
políticas.
A primeira questão é exactamente
essa, o peso social do mensageiro condiciona o conteúdo da mensagem, ou seja, a
mesma frase não tem o mesmo valor afirmada por um cidadão comum ou proferida
por uma figura com responsabilidades de decisão, neste caso em matéria de
cultura e políticas públicas nesta área. Aliás, trata-se do ministro da
Educação.
Pode sempre afirmar-se que haverá
alguma razão nas afirmações ou que a intenção não traduz o valor facial das
afirmações.
No que respeita à eventual razão,
mesmo que em algumas situações pudesse ser entendida, toda a gente as ouve pelo
que não podem deixar de as analisar e levar em consideração.
Quanto à intenção, a sua não
existência, e até posso esforçar-me por acreditar que não exista, não colhe.
É verdade que numa certa altura
do desenvolvimento dos miúdos, o seu desenvolvimento moral e intelectual
leva-os a considerar que a sua não intenção de realizar algo, desculpa o que
aconteceu, tal entendimento traduz-se no frequente "foi sem querer" e
como "foi sem querer", não tem problema.
Neste patamar, não funciona o
"foi sem querer" e não podemos dizer a primeira "coisa que nos
passa pela cabeça".
A questão é que as lideranças, as
que verdadeiramente lideram, apesar de não possuírem, felizmente, o dom da
infalibilidade e da perfeição, não podem, não devem proferir determinadas
palavras e persistirem teimosamente na sua afirmação.
Existem, neste caso e não só de
agora, muitas crianças e adolescentes que não estão a ver efectivamente cumprido
um dos inalienáveis direitos, o direito à educação.
Trata-se de mais um exemplo de
palavras (mal)ditas que ao longo dos anos têm sido proferidas por muita gente
dos vários quadrantes políticos e áreas de intervenção.
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