Foram divulgados dados do Inquérito
às Condições Socioeconómicas e Académicas dos Estudantes do Ensino Superior coordenado
pelo ISCTE com respostas de 10600 alunos do ensino superior público e privado
no ano lectivo 22/23. É relevante saber que 9% dos alunos referiram ter um
problema de saúde mental o que duplica o resultado, 4,4%, do inquérito
realizado em 20/21.
Vão sombrios os tempos. Recordo ainda
o inquérito realizado pela Universidade de Lisboa entre Abril e Junho de 2022
abrangendo 7756 alunos dos cerca de 52 000 de todas as faculdades da
Universidade que também já tinha dados inquietantes.
Apenas 36,4% dos alunos refere
sentir "engagement académico" pelo menos uma vez por semana. A
equipa que promoveu o estudo definia este quadro como “estado psicológico de
bem-estar cognitivo-afectivo positivo".
Mais pesado se torna o cenário se
considerarmos que apenas 14,5% diz sentir este bem-estar na maior parte do
tempo. No que respeita a indicadores de saúde mental, 15,3% revelam sintomas
burnout, 25% dos estudantes revelam níveis severos ou muito severos de stress,
26,4% apresenta níveis de ansiedade e 25,2% de depressão. Desde 2015 aumentaram
300% os serviços de apoio psicológico.
Os dados não são surpreendentes,
estão em linha com outros estudos, nacionais ou internacionais como o que hoje
refiro, mas são preocupantes, muito preocupantes.
Estamos a falar da faixa etária
entre os 18 e os 23 anos, ainda que também tenham sido inquiridos estudantes de
doutoramento e estamos a falar de etapa muito relevante no seu percurso de
vida.
Partindo do princípio que a
maioria frequentará cursos escolhidos que sustentarão a construção de projectos
de vida que, seria de esperar numa perspectiva optimista, que podendo ser uma
etapa dura e com obstáculos pudesse criar uma imagem de futuro que motivasse e
alimentasse um quotidiano de trabalho exigente, certamente, mas vivido com
alguma motivação.
A minha relação com alunos do superior foi mostrando há já algum tempo sinais deste mal-estar.
O que me parece verdadeiramente
inquietante é não conseguir vislumbrar como poderemos em tempo útil reverter
esta situação e promover ajustamentos, e que ajustamentos, nos cenários de vida
destes jovens que são o nosso futuro.
É certo que foi anunciado que no
início de Outubro os alunos do ensino superior poderão aceder a consultas de
psicologia e nutrição realizando o pedido site Gov.pt, que será lançado a 30 de
Setembro.
O mal-estar, em todas as faixas etárias, parece ser um novo normal. Que raio de mundo é este?
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